Brinco de feira é pouco pra mim!
Usei o mesmo brinco por muito tempo, já desgastado, joguei-o fora. E na ansia de não querer mais adorno, decidi abster-me do que eu achava ser capricho. Mas as mulheres sempre precisam de brincos, e eu não seria diferente.
E quando já me convencia de que brincos não são necessarios, presenteada fui com brinco de diamante, de lapidação unica, rara beleza, preço inestimavel. Brinco que estava jogado num canto qualquer, pois tem quem prefira e combine mais com bijuteria.
E fiquei ali, a afita-lo com olhos de quem tem medo de usar tão valiosa jóia. Hesitei por uns instantes, mas o seu brilho era sem igual, e desejei tê-lo como nunca quis. Me pareceu perfeito o encaixe!
E a jóia sem preço, foi parar na desordem de um guarda-roupa usado, ja gasto, mas que tinha o seu valor. E passou um mes guardado com todo o apreço, que por objeto algum eu tinha tido. E minha orelhas clamavam por acha-lo e ve-lo ali a disposição para tornar-me mais bela.
Passado o mês de euforia, as orelhas ainda clamam o brinco, mas o brinco foi deixado de lado. Percebi que lapidação perfeita talvez não seja para minhas orelhas tão simplorias, gastas, feias e rusticas. Insisto em coloca-los, mas a minha orelha fere, machuca, pois tenha a certeza de que ele nela não quer ficar.
E chego desnuda de vergonha, de senso, tornado-me ridicula, tola, insistente...por ainda querer tal brinco. Aceito, sem convencer-me, de que eles não são pra mim! Sinto que apesar do brinco combinar comigo e parecer perfeito, não pode minha orelha adornar.
E ele volta de onde veio, talvez pra em algum canto ficar, empoeirar-se, ficar obsoleto, sem valia, porque aos que não reconhecem seu valor aquilo é bijuteria. Sabendo de seu valor, me fere abrir mão de magnanimo presente. Poderia desejar orelhas lindas e perfeitas ao brinco, mas a vontade que tenho é de fique ali a esperar-me, que a poeira o cubra por completo e ninguem note que ele está ali. Pois já não sei se o brinco não me quer ou se minha orelha é que precisa de plasticas profundas. Sei que quero-o pra mim!!!
E a insistencia em coloca-los fez com que minhas orelhas rasgassem e qualquer brinco que eu venha a colocar será pequeno demais para elas. Porque elas conheceram jóia e não aceitam mais os brincos de feira que um dia eu usei!
As orelhas feridas hoje sangram, mas irão cicatrizar! Apos cicatrizadas, usarei brincos condizentes com as orelhas mediocres que tenho, vou compra-los em feiras, em camelos, duraram pouco e os jogarei fora. E quando cansada disso, já não terei vontade de usa-los. Cicatrizadas, não doerão mais, tornar-se-ão mais duras e fortes, ate que o furo feche por completo e eu já não possa brincos usar. Ou utilizarei do pretexto de orelha ferida por estar desguarnecida de brincos.
Mas ao deitar, sempre lembrarei do brilho, das cores, do valor daquilo que um dia em minha orelha esteve. E o verei novamente, em orelhas que jamais eu teria. E talvez eu me arrependa de não ter insistido um pouco mais, talvez o brinco ainda queira a orelha arrebentada pelo tempo, pela falta de cuidados e de beleza, mas aí não servirá mais em mim.
As orelhas ainda sangram...
Ainda...
Obs.: "Uma lenda árabe conta que Sara, esposa de Brahmi, era terrívelmente ciumenta.
Tendo notado especiais atenções de seu esposo pela escrava Hadjer, num momento de furor fez furar os lóbulos das orelhas da rival.
Brahmi tratou com todo carinho das feridas da escrava. Quando elas cicratizaram, notou que deixaram um furo em cada orelha.
Para consolar a escrava ele fez passar, através dos furos, dois aros de Ouro que a fizeram ficar ainda mais bela e mais atraente."