DIAS DE ANIVERSÁRIOS

Por que será que antes do aniversário acontecimentos se precipitam fazendo a gente crer que o mundo está vindo abaixo, os dias são uma sucessão de eventos imprevisíveis, seriam necessárias duas de mim para dar conta de tudo. Neste ano não foi diferente. Eu tinha me programado para passar da maneira mais leve possível, exercitei minha paciência o máximo que pude, venho tentando reprogramar a mente só com pensamentos bons, exorcizo os maus quando me assaltam (sim, eu sofro de maus pensamentos, estou buscando a cura para isso, se alguém tiver alguma dica, eu agradeço). Estava indo tudo muito bem, mas uma coluna de água do prédio estourou e inundou três apartamentos, inclusive o meu. Foi uma correria danada. Deu para ver como as pessoas reagem em momentos como esse. Eu disse para uma moradora não jogar a água pelas escadas e sim ir secando com um pano, e ela me disse que não tinha força. Comentando com amigos, eles disseram que numa ocasião assim, eles também fariam o mesmo. Enfim, eu tenho mania de pensar no politicamente correto em situações catastróficas. Voltando ao aniversário, o do meu filho é um dia depois do meu. Só não foi no mesmo dia porque a anestesista da minha obstetra estava viajando. Então emendamos as comemorações e à meia noite começamos a festejar o dele, que culmina num almoço oferecido por sua madrinha. Neste ano, não sei se devido ao cansaço, resolvi dar um piti. Queria deixar tudo e ir para a praia ver o mar, respirar aquele ar carregado de iodo, sentir a brisa no meu rosto, caminhar na beira mar. Eu sei que lá eu estaria dividida, ia querer estar aqui com todos. Eu tenho disso: às vezes quero fazer duas coisas ao mesmo tempo, sofro com a dificuldade de decidir e fico zangada comigo por isso. Acabo escolhendo uma opção, no fim dá tudo certo. Ganhei um CD feito pelo pai da namorada do meu filho, com músicas dos anos sessenta. Enquanto escrevo, ouço Blue Swede Shoes, cantado por Elvis Presley, Besame Mucho – óbvio que é Ray Connif, Blue Gardenia – Nat King Cole, Diana – Paul Ana, Only You – The Platers, Rock Around The Clock – Bill Haley And His Comets. Paro um pouco para dançar este rock. É uma delícia. Lembro dos bailinhos de domingo à tarde na sala de casa, quando afastávamos os móveis e nos reuníamos para dançar. Tínhamos descoberto o rock e nos revezávamos para dançar com os rapazes. Éramos tão inocentes, puros, ingênuos. E felizes. Nossos pais estavam ali e nos amavam. Meu filho me perguntou se eu gostei de ter ficado, e eu respondi que a alegria de ter ficado com ele é inigualável. Amo meu filho e sua felicidade para mim está em primeiro lugar. Ao som de Moonligth Serenade – The Glenn Miller Orchestra, depois de muitas taças de vinho branco e uma de champanhe, sorvo a felicidade consciente desses dias. Oh! Carol, na voz de Neil Sedaka embala este quase fim de noite, seguida de Tenderly, doçura de voz tem Nat King Cole. Atendo o telefone. É uma amiga. Não devia ter falado dos meus pitis. Não devia ter tido os pitis. Put your Head on My Shoulder, Paul Anka, vem tomar parte nos meus pensamentos. Mais uma parada para inventar passos de rock ao ritmo de Shake Rattle and Roll. Enquanto busco uma taça de vinho, começa Along The Santa Fé Trail. My Prayer lembra-me que hoje é domingo. Agradeço a Deus por nossas vidas. Que sua proteção nunca nos falte. Ao som de La Cucaracha, sinto saudade dos meus amigos latinos, penso que escrever, dançar e um bom vinho são uma boa terapia. Sou feliz. Seja feliz, meu filho, perdoa-me pelos pitis. Estes dias estão sendo assim. Aos poucos, tudo volta à normalidade. Semana que vem o mar está lá me esperando, vou andar descalça na areia, a água vai molhar os meus pés, o vento baterá no meu rosto, darei um mergulho, o sol brilhará, do terraço abarcarei aquela vista maravilhosa, e tudo estará bem. A vida vale a pena, deve ser sorvida minuto a minuto, como um bom vinho, uma boa música.

19/03/2006