POMARES DE MINAS (reflexão sobre mim)
Estou vazia hoje, vazia por dentro.
O vermelho alegre das minhas unhas se reflete em meu sorriso,
mas não em meu coração.
Tudo está bem, perfeito. A vida vai em ondas tranqüilas.
Mas meu coração é um mar revolto.
Sempre fui assim, inconstante como o vento. Invejo as nuvens
porque viajam sempre, tenho pena das árvores
porque ficam presas a vida inteira no mesmo lugar.
Sou como as árvores, embora queira ser como as nuvens.
Insustentável sossego em baixo de jabuticabeiras em flor.
Embriagante perfume doce, tranqüilo como as tardes mineiras.
Sou eu, a menina mulher, que quer desabrochar neste jardim repleto de maturidade.
Ou seria a borboleta deixando o casulo tardiamente?
Vá borboleta azul, se misture com as nuvens,
se deite nas asas do vento.
Vá, mas volte, porque os pomares de Minas te esperam.