Hipocrisia – Uma Reflexão

É uma doença vadia. Dissimulada ela depressa vicia. Impregnada logo contagia. Ninguém está livre da tentação e até mesmo da sua apreensão. Faz parte da cultura e dos malditos costumes que habitam os nossos mais recônditos esconderijos e que nos negamos a admitir pela cidadela, pela fortaleza da vaidade.

A hipocrisia é o melhor combustível para o ‘high society’ por estar presente de forma exuberante nesses instantes onde desfila toda sua elegante pujança.

A hipocrisia é como erva daninha sutil que das suas entranhas esparrama suas ramas em qualquer buraco do teu alicerce. Se ele não for firme, sólido, leva teu prédio abaixo. Como praga assola e cola na tua pobre e desprevenida, distraída e ingênua alma.

O pior de tudo isso é que quando você se dá conta ela já tomou conta dos seus hábitos e você nem se apercebe dela, ou seja, você não a vê em você, mas consegue ver nos outros. Estranho isso! Nos outros a hipocrisia travestida da vaidade... Aparece rapidinho, mas em você... Brinca de esconde, esconde.

A hipocrisia é irmã trigêmea da vaidade e do orgulho. Amiga íntima da soberba e prima da insensatez. O médico da hipocrisia é o Dr. Esquizofrênico com quem mantém relações incestuosas no consultório com um retrato na parede de Hipócrates. Desculpem a irresistível engraçada imagem figurativa construída na própria terminologia usada para descrever a árvore genealógica da danada.

No mundo poético de onde fui lançado aprendiz, tem menos de dois anos de escola, tenho apreendido, sofrido e me divertido por demais da conta com a tal da hipocrisia. É nesse mundo que ela se mostra mais atraente, sutil, mascarada e disfarçada de virtude.

É só você se deter na análise dos poemas e dos comentários provocativos que você tem um farto cardápio dos seus tentáculos esparramados. Por vezes chega a ser divertido, diria mesmo que hilariante, por outras é pior que dor de dente perceber o seu ‘modus operandi’. A hipocrisia sem dúvida alguma comanda o espetáculo.

Você pensa que escapa? Ledo engano! Ela te engole. Você vira um fantoche, uma marionete nas mãos da hipocrisia. O pior de tudo é que você não a enxerga em você, e se a vê finge que é bobo e não a percebe seduzido por seus encantos desvia o olhar... Mas no outro a vê rapidinho.

Caso alguém o alerte você vira fera indomável... Parte logo para a desforra lembrando ao outro às suas próprias hipocrisias.

Quando você está por dentro desse mundo da hipocrisia (não há como fugir dele a menos que vire eremita) participando de sites de relacionamento, você consegue vislumbrar algumas sutilezas... Mas o melhor é do lado de fora como observador participante vencido pela tentação da exposição das suas próprias hipocrisias.

Ainda outro dia eu tive a nítida noção da percepção de que a hipocrisia tem conexões com o poder de forma umbilical. São ‘amantes’! Eles mantêm uma relação às escondidas, meio que subterrânea lá nos porões do nosso ser.

Isso comigo se deu como 'miragem' por onde vi desfilar a nata da malandragem mais hipócrita que se diz poética e ali surgiu marcando presença, assinando o ponto com os peitos estufados ostentado de forma patética o diploma de PhD em hipocrisia. Melancólico.

Pasmo inconfesso agora, que não sabia se ria ou chorava diante daquele episódio dantesco e de gosto discutível, mas causador do embrulho estomacal de se ver, ou ter sido, membro daquela espécie.

Mas fiquei feliz de não mais estar por ali desfilando as minhas próprias hipocrisias, agora não mais tão ignorantes e, portanto suscetíveis de culpabilidade ética e moral. Acione-se o mecanismo de prevenção para não cair de novo na tentação dizia meu anjo da guarda sapeca e sempre alerta assim como escoteiro.

Afinal há tantos outros espaços reais e virtuais com espírito mais salutar. Identificado ali como um foco de contaminação... VADE RETRO HIPOCRISIA!

Não posso deixar de confessar que fico triste quando vejo que a nossa espécie humana se tornou especialista em hipocrisia. Penso que o mundo competitivo do capitalismo selvagem nos levou a isso.

Essa competição desenfreada e consumista foi prostituindo as almas sadias e estampando nelas uma nudez coberta apenas pela gula da inveja, deixando a generosidade, a solidariedade, o amor ao próximo, a igualdade, a justiça... Famintas e isoladas!

E isso tudo aqui refletido é como o próprio abominável pecado que está sempre tentador, sedutor, encantador, provocador, coberto de fascínios a nos chamar para o conluio. Faço esta reflexão como uma oração para me proteger com as bençãos solicitadas ao Todo Poderoso, mas sei de antemão que Ele só poderá me ajudar com a minha própria ajuda de contrapartida.

Acredito que talvez seja esta uma das razões mais fortes, em que muitos se isolam do convívio em sociedade, por conta de aguçada sensibilidade intuitiva de que ali em determinado lugar, a poluição tomou conta do chão. Que a sua presença no local é perigosa a um eventual contágio da doença e que deve cuidar logo de arranjar outro abrigo protetor mais sadio.

Para concluir permita-me dizer que considero este espaço aqui do Recanto das Letras um dos melhores locais que eu conheço.

Há também os sites e blogger individuais por onde você

detém o controle das suas ações e reações, sem a nefasta formação da nata hipócrita dirigente.

Quanto ao tema aqui descrito arremato dizendo que a doença da hipocrisia eu só vejo para ela um remédio à sua cura... A da simplicidade e a do amor a verdade quaisquer que sejam as suas doses bem aplicadas.

Hildebrando Menezes

Navegando Amor
Enviado por Navegando Amor em 21/10/2008
Reeditado em 21/10/2008
Código do texto: T1240102