Absurdo Existencial
Havia uma promessa no vazio. Não é que fosse certa, nem inevitável, mas forjou-se necessária pois não era possível fugir. O chão ruíra atrás do abismo; sobre um filete ínfimo de terra, não havia outra saída senão pular ou permanecer imóvel.
A escuridão parecia mais doce. Há no breu uma chama cálida que não se vê e é mais forte que todas as coisas. Acende-se repentinamente e explode. Pode morrer, é verdade; pode extinguir-se, causar sofrimento. Porque abraçar o desconhecido é um risco iminente.
Risco de entregar-se intensamente à violenta indiferença que o correr do malquisto tempo gera. É que as coisas parecem carregar em seu bojo o término. O que começa está sempre fadado a acabar.A efemeridade causa desconforto e desorientação: compreendê-la é quase como aceitar o caos.
Não sei lidar com o efêmero. Pois há um sentido nos vínculos com existências alheias, mais profundo que meu alcance consciente e independente de meu controle. Os outros são tão essenciais que estar só é a dúvida insensata de estar-se ou não realmente vivo. Não se pode esperar nada, infelizmente, desses outros. Espero, sabendo que vou sofrer. Espero porque sentir é meu maior e mais surpreendente segredo incontrolável. Desconheço o porvir e, no entanto, aguardo com olhos abertos e sem temor o que me espera. Não posso fugir do que me ultrapassa.
Aceitar as próprias limitações e fragilidades é perceber-se humano: os mesmos sofrimentos ao longo da história de nossa espécie. A estranheza de existir no mundo e participar da sucessão frenética ou demorada de momentos absurdos e contraditórios entre si é a mesma através dos séculos. Com a alma transbordando de calor humano, abro os braços ao disparate desconcertante...