A canção do sol
Enquanto uma chuva de primavera caía forte aqui, para logo em seguida ir diminuindo a intensidade até surgirem raios de sol, ocupei-me de atividades de sábado de manhã. A Isa não veio para casa ontem, como toda sexta, então pude preparar a casa com um cuidado maior, e enfim receber minha filha.
Fiquei sozinha várias noites essa semana, o que custou-me reflexões sobre meu modo de vida atual. Os dias correm apressados e preenchidos por barulhos e movimentos de tudo ao meu redor: meu trabalho, as pessoas com quem convivo profissionalmente, os alunos, seus pais, seus problemas, uma amiga, uma balada, uma visita à minha mãe.
Quando chego em casa, o silêncio, que teimo em fazer quebrar ouvindo música, falando ao telefone, vendo algum filme. Determinada hora da noite preciso do silêncio, que embora desejado depois da lida pesada do dia, incomoda ainda um pouco.
Ouço o bebê vizinho que chora, o marido da outra vizinha que chega ao amanhecer. Uma das janelas do sobrado em frente, sempre aberta durante as noites e madrugadas, fechada nos dias. Que segredos cada parede guarda? As plantas aqui na janela da minha sala, verdinhas algumas, outras não sobreviveram à minha indiferença.
Meu rosto é espelho, meus olhos transmitem minha alma. Minha amiga passa aqui para irmos para a aula de dança. Ela já me conhece o bastante e sabe ler que andei de mãos dadas com pensamentos insistentes, indigeríveis e alguma insônia. Desvio a conversa e vamos à academia. Gente, música, conversas, risadas.
Volto para casa, nessa noite de sábado em que, excepcionalmente, não vou sair. Filha finalmente chegou. Que bom! Cheia de novidades, afinal de contas, vai completar 20 anos essa semana. E não paro de pensar na minha vida, que tem passado rápido demais. Uma ponta de medo por aqui.