O QUE SEI É QUE NADA SEI
O que sei é que nada sei.
Me vejo aqui sentada a olhar o vazio, procurando em minha alma vazia razões para não ser tão vazia. Ridícula em minha blusa amarelo-ipê, aquela mesma blusa que eu achava que me dava sorte e que hoje apenas acentua o pneuzinho na cintura. Nada sei sobre a vida ou sobre a morte, ou sobre o tempo seco de setembro, que já devia estar úmido pela chuva. Nada sei sobre o que se passa na cabeça do ser humano e pra falar a verdade, não me interessa saber no momento.
A vida segue seu curso e eu vou nada sabendo. Talvez seja melhor assim, pois saber demais nos torna sofredores das dores do mundo.
E eu vou tentando ser feliz na minha singela ignorância, fingindo que não sei das coisas, me tornando uma auto-analfabeta de idéias.
Os telejornais gritam notícias e eu quero me fazer de surda. Não quero mais saber quantas crianças despencaram das janelas, nem onde foi o último ataque terrorista, nem quantas casas Gustav destruiu, ou se já chegou aos Estados Unidos. Não quero saber quem está na frente nas pesquisas, nem quem roubou em Brasília. Por favor, não me contem nada, só por hoje, me deixem em silêncio. Pois a única certeza que tenho agora é que nada sei, e nada sabendo sigo pensando que tudo está bem, como numa gostosa e tranqüila ilusão de ótica.