O Monstrinho Risonho.
O Monstrinho Risonho
Em um belo dia nasceu em uma tapera na beira estrada.
Mais um pequeno infeliz, de uma prole desamparada.
Com os olhos arregalados, e a cara suja de carvão.
Seus irmãozinhos fitavam-no com grande preocupação.
O pequenino chegava.
Para dividir o espaço, e a minguada refeição.
Sendo o mais novo da turma, passou a ser maltratado.
Quando perdeu seus pais, ficou no mundo jogado.
Enxotado e desprezado, pelos hipócritas da comunidade.
Foi morar em canos de esgoto, no subsolo da grande cidade.
Certa noite um bando de ratos, esfomeados e horríveis.
Roeram seus lábios com gana, deixando seus dentes visíveis.
Foi real e não um sonho.
E lhe valeu o apelido, de monstrinho risonho.
Quando tempo para chuva, começava a se voltar.
Pelos becos escuros, ficava a perambular.
Em uma noite chuvosa, no cemitério se refugiou.
E como estava cansado, sobre um túmulo se deitou.
Com as badaladas da meia noite.
A tampa de um caixão se abriu.
Desesperado e assustado, o menino suou frio.
Inesperadamente, ao solo foi arremessado.
E deparou-se com um vampiro, de olhos avermelhados.
- Como ouça invadir meus domínios?
- O vampiro lhe perguntou.
E o menino gaguejando, e tremendo de medo murmurou.
-E... Eu não pensei atrapalhar, só não queria me molhar.
Mas se quiser eu vou embora, e procuro outro lugar.
Quando pegou seus trapos, e pensou em se afastar.
Com uma voz tenebrosa, ouviu o estranho falar.
- Eu sou o príncipe das trevas.
E desta vida miserável, agora vou te libertar.
E a seguir um bafo quente, e uma fisgada no pescoço.
- Não vou sugar todo este sangue, mesmo sendo um colosso.
- Vou torná-lo meu servo, - pensou o vampiro sábio.
Chegou a engolir saliva, e passar a mão nos lábios.
Após levantar a capa, abriu a boca e bocejou.
Transformou-se em morcego, bateu as asas e voou.
Antes do alvorecer, ao cemitério retornou.
Assim que chegou ao túmulo, ao garoto foi informar:
- Saiba que de hoje em diante, só a mim tu servira.
O menino acordou sonolento, e apalpou o ferimento.
E pensando por um momento, achou por bem concordar.
E uma bolsa com moedas, o vampiro lhe entregou.
Deitou-se em seu caixão, e a seguir lhe explicou:
- Por algum tempo a claridade, não poderá lhe afetar.
Agora pegue este dinheiro, e compre tudo que precisar.
A meia noite esteja aqui, e agora trate de se mandar.
E menino apanhou a bolsa, que o vampiro lhe deu.
Na primeira loja que entrou, um policial o prendeu.
O levou para a delegacia, e o tratou como ladrão.
Deu-lhe varias palmatórias, e o deixou sem um tostão.
Depois de ter tanto dinheiro, voltou a saciar a fome.
Com os restos de alimentos, espalhados pelo chão.
A meia noite em ponto, ao cemitério retornou.
E quando os sinos badalaram, o vampiro se levantou.
Depois de olhar para o garoto, passou a lhe interrogar:
- Porque não fizeste a compra, preciso lhe perguntar?
Ordeno que me obedeça, conforme eu determinar.
- Mestre, eu não tive malícia.
Tentei comprar em uma loja.
E o dono chamou a policia.
Fui preso, e apanhei.
E sem dinheiro fiquei.
E o vampiro falou:
- Eu tenho quinhentos anos.
E aprendi a tirar vantagens.
Das ambições dos seres humanos.
Você ainda é criança.
Vera que muito em breve.
Teremos nossa vingança.
A seguir lascou para o canto, uma cusparada indecente.
E voltou a morder o pescoço, do pequenino inocente.
Depois que seu desejo de sangue saciou.
Arreganhou os dentes sanguinolentos.
E em morcego se transformou.
Deu uma gargalhada estridente, bateu asas e voou.
Antes que o dia clareasse, ao túmulo retornou.
Despertou o menino que dormia, e outra bolsa lhe entregou.
-Compre tudo que precisar.
E a noite esteja aqui.
-Voltou a recomendar.
Depois de pegar a bolsa, o garoto se afastou.
E em cada canto da cidade.
Por precaução, uma porção de moedas enterrou.
E já tremendo de fome, o pobre menino pensou:
- Esta fome eu já não agüento.
Preciso ir a um restaurante.
E comprar algum alimento.
Com a barriga roncando, em um comercio entrou.
Quando em um banco se sentou, o proprietário o expulsou.
- Eu pagarei em ouro, - foi o que argumentou.
Ao ouvir a palavra ouro, o ganancioso se interessou.
Refletiu por um momento, e seu tratamento mudou.
- Onde esta seu dinheiro? - Curioso perguntou.
E um pedaço de trapo, o menino desenrolou.
Ao notar as moedas, o sovina falou:
- Acompanhe-me meu filho, com prazer te servirei.
Com o dinheiro que tu tem, será tratado como um rei.
E saiu cantarolando:
- Filhinho do meu coração.
Agora vou lhe preparar uma suculenta refeição.
E em um prato de angu, sonífero colocou.
E com grande falsidade, ao inocente entregou.
Acreditando na bondade, daquele velho ancião.
O garotinho comeu, com apetite de Leão.
Assim que pegou no sono.
O salafrário ganancioso, seus bolsos vasculhou.
E como era descarado, seu dinheiro surrupiou.
Depois o enfiou num saco, e em um beco o atirou.
Quando acordou dolorido, com a cabeça a latejar.
Sentou tristonho em um canto, e começou matutar:
- Não adianta eu reclamar, ninguém vai me acreditar.
Mas passe o tempo que passar, um dia hei de me vingar.
Desde então, começou o comentário nos arredores da cidade.
Vaga por entre os becos, um monstrinho sorridente.
Carrega moedas de ouro, e talvez seja um duende.
Nenhuma alma imaginava uma criança solitária.
Desprezada, pobre e carente.
Temeroso o menino contou ao vampiro, o que havia sucedido.
E o que o vampiro respondeu, o deixou bem comovido.
- Para nossa satisfação, eu previa esta situação.
Mas isto vai acabar, vamos para o meu castelo.
A vingança vai começar.
E numa bela carruagem, partiu do cemitério.
Um menino mal vestido e sorridente.
E bem vestido, um homem traquejado e sério.
E toda à noite quando os sinos começam a badalar.
O vampirão e o vampirinho se preparam para caçar.
O vampirinho com suas moedas se tornou ótima isca.
E feito piranhas no rio, logo vem um e belisca.
Por volta da meia noite, ele ronda pela cidade.
E é seguido pelos hipócritas, da falsa sociedade.
Ele as atrai para um local ermo, seduzindo-as com seu tesouro.
E o vampirão as aprisiona, e lhes arranca até o couro.
Depois de sugar seu sangue, ele as joga em um fosso.
Para alimentar os crocodilos, que lhes tritura até os ossos.
E o monstrinho sorridente, se vê vingado, e ri com gosto.
Misturando suas risadas, aos gritos desesperados.
Daqueles gananciosos, que urram no calabouço.
Ainda se ouve por aquelas bandas, o choramingar de almas penadas.
E em noites tenebrosas, horripilantes gargalhadas...
A vida é um jogo. E este vem de longa data.
As forças de um mundo obscuro continuam a recrutar.
Criaturas inocentes, injustiçadas e revoltadas.
Para jogá-las contra a sociedade, hipócrita, gananciosa e desalmada.
Autor independente:
Janciron