Dança dos Contrastes
Vi a pobreza e a riqueza, prédios e sobrados, suor e ar-condicionado, luzes e escuridão, violência e paz, muita gente e solidão, profano e sagrado - A igreja e os carnavais -, becos e praia, vozes e silêncio.
O que restou dos cortiços: varais dentro das casas sem luz e sem vento, grandes escadas destruídas, cores descascadas das paredes, cheiro de mofo e de lixo ajuntado. As sacadas são as janelas (pois não existem janelas suficientes para arejar o aglomerado).
Um homem vasculha o lixo. Há músicos em todos os bares. Não há rua totalmente vista, não há luz suficiente. O que escurece o bairro é a sujeira. É uma cidade sem lei (O que não tem governo nem nucna terá).
Gritos de criança, é uma cidade mal assombrada. Com visão para os grafites, a cerveja e a cachaça são as mais pedidas. As mulheres não precisam de anúncio, elas o fazem com seu próprio corpo.
É impressionante o movimento dos contrastes. O que me aquieta é observá-los e descrevê-los.
A reação dos moradores é o que mais me fascina. Seriam apenas diferentes ou mui conformados? Sujos ou limpos, bonitos ou feios, iguais ou diferentes, eles simplesmente não se importam.
Engraçado é que quanto mais a cidade escurece, mais o bairro se ilumina para mim. O movimento e o barulho reclamam e exaltam o Rio de Janeiro. A Lapa é intensa: vive de extremos, extrema de contrastes.
Lapa - RJ, ano 2007