MISTÉRIOS DE UMA FÉ RIDÍCULA
Nada há de mais ridículo que o Credo Católico. Aquele negócio de colocar um pedaço de pão num ostensório e sair em procissão incensada por turíbulos pendulantes. E todos a adorar o Deus que, transfigurado em pão, evoca a memória de um sujeito que nasceu de uma mulher virgem por ser a Encarnação do Verbo Criador de todo o Universo e que, junto com o Pai e o Espírito Santo, não é mais Três e só apenas Um. Coisa de ignorantes, dirão alguns. Outros preferirão admitir que a insensatez chega ao paroxismo nessas excentricidades sem pé nem cabeça. Outros dizem que é a fé, ainda mais surpreendente, em sua resposta aos que creem.
Sem dúvida, é mesmo de um ridículo ímpar! No entanto, mais surpreendente ainda é como os católicos esclarecidos conseguem percorrer o discurso racional sem tropeços e conversar no mundo com todas as mentalidades racionais e autoridades seculares. Esses dias a Veja noticiou sobre um Padre Ortodoxo que nada tinha de ortodoxo em suas práticas esotéricas e terapias intrincadas e apenas compreensíveis pelos iluminados momentosos. Quando menos se esperava, eclodiu o ovo da serpente - a descoberta de que o guru, auto-denominado cristão tradicional, tinha sido na verdade o tarado que cometera atroz genocídio contra muçulmanos. E o povo tava até gostando das leituras do destino e demais atributos extraordinários do meliante.
É mesmo duro admitir que, ao que tudo indica, os católicos de verdade, firmados na ortodoxia doutrinária, conseguem concentrar toda essa sôfrega busca do transcendente em seus ousados dogmas a insistir que sim, isto não é apenas uma matéria de sonhos mitológicos, mas que as inacreditáveis baboseiras de nascimento virginal, Encarnação Divina e Ressurreição são fatos históricos, ainda que não verificáveis pelos modernos métodos científicos. E repousados em tamanho contraste com a realidade cotidiana e material, gravitam serenamente pela ciência moderna, os papos de botequim e as atividades mais mundanas como balançar o esqueleto ao som de um bolero ou tango. E outras baladinhas mais. Discutem com Freud e freudianamente duvidam da infalibilidade das determinações papais sobre a contracepção, entram em crise, depois levantam a cabeça e buscam seguir em frente com toda a angustiante inconstância em tensão com o apego à fé.
Enquanto isso, há quem delire esquisotericamente em naves espaciais venusianas que buscam resgatar os seus cá na terra. Ou em leituras de tarô, búzios e outros devaneios menos absurdos que os dogmas, é certo, sem nem ao menos lançar indagações sobre a sua virtual realidade e entregues aos lobos, como cordeirinhos sem qualquer reação. E enlouquecem algumas vezes. Sem mencionar uma certa demência infantil em buscar fora de si respostas que estão cá dentro, gratuitamente.
Vai entender ...