Anathomy - Neck
Entre as múltiplas peculiaridades do ser humano, há uma de caráter anatômico (ui, que vocabulário chaaaato). Na junção da cabeça com o pescoço há um espaço que não é protegido nem pelo crânio e nem pelas vértebras. É o famoso bulbo (famoso?) e ele controla nada mais, nada menos que os movimentos cárdio-respiratórios. Lembra daqueles filmes toscos de artes marciais que empolgavam seus amigos quando você era pequena? Sempre alguém dava uma pancada atrás do pescoço do inimigo e o matava instantâneamente. Não é que era verdade? É uma área completamente desprotegida e pancadas podem provocar uma parada cárdio-respiratória.
Falha da seleção natural? Talvez não. Esse espaço nos dá mobilidade. Ele nos permite olhar para os lados, executar movimentos amplos da cabeça. Sem ele não poderíamos espreitar o que nos cerca, enquanto caçávamos na pré-história.
Hoje, ele serve basicamente para alongamentos, respirar na natação e prestar atenção na vida dos outros. Talvez se tivéssemos a cabeça sendo obrigada a olhar para frente sempre, não nos preocuparíamos tanto com o que se passa na vida do próximo, olharíamos para frente. Porém também seria mais difícil perceber as outras pessoas e acabaríamos sendo ainda mais egocêntricos.
Um ser humano não vive solitário. Para poder integrar-se ainda mais com o que lhe cerca, ele deixou à mostra, sua respiração e o coração que lhe mantêm vivo. Nem sempre a proteção é a melhor das coisas, afinal, quantos acontecimentos não nos privam de olhar ao redor? Quantos de nós não usamos viseiras de cavalo, sem perceber se pisoteamos os outros enquanto trotamos loucamente à frente? Sem esse pequeno espaço entre a cabeça e o pescoço, não existiria a olhadinha pra trás esperando ver alguém especial, ou a esticada de pescoço pra cima, pra aproveitar o sol. Os beijos então! Sempre de frente, estranhos, rígidos. Talvez diminuísse o risco de acidentes, talvez nos sentíssemos mais seguros, mas o que é segurança sem liberdade? As escolhas não estão sempre entre a segurança e o risco?
Não acha? Coloque um colar cervical e me diga a sensação. A vida não faz sentido pra mim se não puder fazer escolhas, perderia a razão, o equilíbrio.
Já parou pra olhar a lua esses dias? O queeeeeeee? Descanse um pouco a cabeça e use seu pescoço! O coração e os pulmões agradecem.