Epitáfio.
Me sinto só neste quarto quase escuro. Somente a luz tênue do abajur e as lágrimas me fazem companhia.
Estive pensando em minha vida, em tudo o que não tenho, em tudo o que quero, em tudo o que quero e não posso ter. Pensei tanto que agora me deparo com esta cena fúnebre. Inacreditavelmente fúnebre.
Eu percebi que algum dia eu vou morrer. Estranho é ter a consciência disso agora, porque antes eu não a tinha... aliás, nunca a tive. Mas é tão engraçado: vivo seguindo regras, horários, paradigmas... porém não sigo meu coração. Quase não cometo loucuras, não bebo, não fumo, e na maioria das vezes, não minto.
Acredito que mais do que ter a consciência da minha própria morte, é ter que aceitar o fato de que tenho que viver mais. Tenho que mudar. Tenho que ser mais humilde, ajudar mais as pessoas, buscar realizar meus desejos, buscar minha felicidade... tenho que amar mais, e loucamente. Eu tenho, porque não sei quando verei a morte de frente; pode ser que demore muito ainda, ou pode ser que seja breve, breve... (e quem poderá saber?)
Não quero parecer pessimista por escrever sobre o meu próprio fim... só quero ser realista. Realista e inteligente o suficiente para começar, a partir de agora, a acreditar que posso ser o que eu quiser, que posso fazer o que eu quiser, amar quem eu quiser, e finalmente, conseguir enxergar que (com certeza) posso vir a ser alguém muito melhor amanhã do que hoje eu sou.
Mas se o amanhã não vier... bem, fica aqui meu epitáfio.