Fragmentos de um nada completo.

Cinzas de cigarros num copo de café, e eu bebendo. Nada me faz sentir tão podre e sujo quanto essa imagem, e ela ta colada na minha vida, como um outdoor que me segue não importa aonde, ela ta sempre lá.

É como um auto-retrato que nunca se conclui; um copo de café com cinzas dentro e cada vez mais cheio. “O que acontece quando encher?” Eu me pergunto. A pergunta me basta, eu não quero uma resposta e talvez nem precise dela, mas talvez um dia ache, antes do copo encher talvez, tanto faz, se isso não significa minha morte, ou a morte de um pouco de mim, o “um pouco de mim” que eu desprezaria se não me estivesse sendo tão conveniente.

Aí vem o vazio, derrepente aquele outdoor pintado, ou simplesmente sujo com alguma intenção de representar o que sou, e que eu tanto quase ignorava, some. É como se tudo desmoronasse ao meu redor, como se meu mundo fossem quatro paredes brancas, e todas desmoronassem em mim. E eu começo a sentir falta daquilo, sinto falta da opção “ignorar”. O sentimento de pânico vaza pelos olhos e me afeta a visão, e a única coisa que me salva disso, é o tempo, mesmo que mínimo se torna vital, por me permitir pensar e limpar o rosto que fede a fumo barato. Livro-me da incerteza então, da angustia do “não ser” ou do “não saber se sou” ou dos dois, e de um pouco de medo, me sinto bem com isso, e me sinto mal por me sentir bem. Só pioro as coisas que tendem a melhorar a curto prazo.

Essa é; a incessante rotina que me persegue. Ruas, bares, conversas, lugares, Pessoas, filmes e coisas da minha vida me levam a pensar, que tudo não significa nada, se pra mim não for alguma coisa, eu amo esse “nada” tanto quanto odeio “alguma coisa”, mesmo amando o que odeie por me fazer sentir assim.

Acabaram-se os cigarros...

Lark
Enviado por Lark em 13/08/2008
Código do texto: T1125710
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