DO CORAÇÃO E DA ALMA

O coração é um cofre aberto.

A alma, um cofre-forte.

O coração é uma caixinha frágil, permeável e volátil, à mercê das paixões.

A alma, uma caixa-forte, inviolável e segura, guardada acima do alcance de vis e vãos sentimentos.

O coração parte-se facilmente, mas refaz-se, embrulha-se de papel de fantasia, e está pronto, para nele entrarem e sairem amores de momento certo, amizades de tempo incerto.

A alma embate e resiste, é nua de disfarces, transparente de cores, invisível de matérias. Mas os danos sofridos ficam para sempre marcados a sangue vivo, visível só por dentro, perceptível por fora apenas a roçares de íntimo querer, ou de sensíveis toques de irmandade nascida...

No coração guarda-se o amor perecível, ainda que vestido de eternidade.

Na alma guarda-se a eternidade do amor, mesmo aquele que demos a quem já pereceu... a quem já passou, e só deixou o perfume, a aura, nua de presença, mas tão cheia de luz!!

No coração guarda-se a lembrança.

Na alma guarda-se a saudade.

No coração, a esperança.

Na alma, a fé.

No coração, a dor.

Na alma, a mágoa.

No coração, a paixão.

Na alma, o amor.

O coração é volúvel.

A alma... insolúvel...