Perdendo Dentes
Eu vagava alheio naquele reduto de acertos e desventuras, já zonzava pulsante pelo álcool e suspirava descompassado... Não atinava que esquecera o engov do antes, o do depois não acudiria. Forget! A sensação era do guepardo que arqueja o calor interno e retorce o bucho vazio, não havia energia para um tiro raso a perder, era um único e kamikaze bote, certeiro ou mortal. Então firmei a visão, fitei a fêmea que lá estava, gazeteando, linda, esguia e pronta para pinotear. Pensei, pensei e parti. Oitenta, noventa, cento e vinte, cento e quarenta graus... Hora de abortar, antes do colapso, do coração explodir, estourar meus vasos todos... Mas ao bom predador, o legítimo guerreiro, a sorte às vezes bafeja. Ela tropeça na própria carreira a poucos metros de safar-se. Ah, gazelita!... Então me fartei de todo e dormi bem cheio, que é muito bom. A vida é assim, nas savanas, nas estepes, nas tavernas... Luta-se com o que se tem e sobrevive quem conhece os próprios limites e as fraquezas alheias. E jamais esqueçamos: na fome lancinante, preá manco é vitelo.