NAQUELE DIA , EU CHOREI!!!

Homem dotado de coragem, sobretudo de coerência, quem o achará? Talvez Leonel de Moura Brizola tenha sido um dos últimos. Nada o detinha, nada fazia calar suas intuições políticas, suas idéias e, menos ainda, seu fazer prático.

Se tiver que sintetizar sua compreensão política, não hesito em dizer: nos outros está o princípio de nossa felicidade. É óbvio que alguns pontos, algumas pontes e alguns caminhos, digamos assim, sugeridos por Brizola nem sempre eram os mais adequados; entretanto, a intenção maior, seguramente, visava a um respirar despoluído onde a totalidade do ser humano fosse levada em conta. Assim, sob esta dimensão, foi um grande e tremendo Profeta. Não é à toa o ódio daqueles que repudiam qualquer mudança em favor dos outros por ele.

Do seu ponto de vista, a Política, além de problematização das coisas, é instrumento libertário, de formação de cidadania. Dessarte, é mister que nos lancemos a "aventuras" corajosas para que possamos resistir às opressões. Aliás, sua trajetória existencial é prova inconteste disto. Machucava-se e fere porque sabia, como poucos, penetrar na essência do tecido social vigente denunciando sua smazelas. Por acreditar na reinvenção de uma outra sociedade, suas observações e reflexões, além de percucientes, tinham a marca da paixão.

Apesar das injustiças assacadas contra ele, o legado brizolista foi, é e sempre será altamente otimista. Não se trata, é claro, de uma espécie de idealismo a-histórico, pois propõe que, juntos, nos educando, encampemos as lutas através das quais brotará o mundo mais ou menos como desejamos que seja. Deste modo, política sem desenvolvimento e conscientização, para Brizola, nada mais é do que embuste. Inquestionavelmente, é no local que tudo deita raízes. Como dizia mestre Milton Santos (que saudade!!!), "o que globaliza, separa". Das entrelinhas do cotidiano, das engrenagens acafeladas do sistema, extraía os elementos geradores de suas críticas e atacava reagindo contra os opressores que ora tentam adaptar tudo às suas idiossincrasias, aos seus interesses, procurando despersonalizar mesmo o cidadão.

Chamá-lo de caudilho, na acepção da palavra (chefete), no fundo, é uma forma leviana de se tentar apequená-lo visto se recusar amiúde sentar à mesa com aqueles que lobotomizam desavergonhadamente a sociedade. Aqueles que de fato o conhecem têm plena consciência de que a matéria prima brizolista consiste no direito sagrado, inalienável, do sujeito ler as coisas, pensar criticamente e dizer o que pensa.

Portanto, naquele 21 de junho de 2004, ao saber de sua morte, exclamei chorando: Leonel de Moura Brizola que falta o senhor fará ao Brasil!!!