Trechos de um livro inexistente -1
“...São anos que passaram, são sentidos que ficaram para trás. Não mais se ouve, nem se fala, nem se vê, o que se sente não é mais o que se apalpa, vive-se do olfato como os animais que outrora escravizaram. De tão prosaica a vida lhes reservou o mesmo destino de muitos: a nostálgica sensação de imortalidade terrena que desejam os homens que jamais sentiram-na, a excreta que permanece mesmo após o escarro, os passos que agora não mais podem ser dados e a memória que recusa a revivê-los, os feitos do passado eclipsados pela geração presente, a dor dos dentes que rangem, cerram-se, mas que parecem eternos... são fósseis vivos, rejeitados pelo mundo, recusados pela morte...”