Os poetas são pobres
Há proibição em viver
Há proibição na fonte que brota a água cristalina, que mata a sede do homem. Há proibição na largura da língua do alfaiate que trabalha no alinhavo da bainha do terno do príncipe. Há proibição na crítica que começa e não tem data marcada para terminar. Há proibição no choro. Na saraivada de ofensas àquela mulher linda que passa sorridente. Não há proibição no pensar. Na feitura de poesia – sem rima – sem métrica – sem compromisso de agradar ou não.
Fome de dormir
O vento chora na fresta da janela. Passa pelos filetes um fio de tristeza. Não me acomodo – não arrumo meu travesseiro – perco o sono. O jantar me espera – com mesa posta – toalha de renda e alimentos de primeira. A televisão continua desligada. A propósito – preciso dormir – não tenho fome.
Mãos sobre os ombros
Quisera estar livre com as mãos soltas sobre o ombro de alguém. Quisera poder visitar meu passado sem qualquer choque – sobressalto – ou possível ataque que me deixe paralisado.
Os poetas são pobres
Mario Quintana – no aprendiz de feiticeiro. Carlos Drummond – com a pedra no caminho. Os poetas são vermelhos como sangue. A face não engana. Não há bandeira. Há moinho de vento – na luta de Cervantes. Há sonhos impossíveis. Não há e nem pode haver arrogância nas linhas dos poetas. Os poetas são pobres.