O póstumo do surreal
Um dia, de tantos outros, você sai a noite. Escolhe um bar, se senta. Pede um vinho e observa o tempo passar.
Assim, sem mais, começa a sentir que algo te sufoca, se sente estranho...preso... Preso, mas preso sem cordas, sem algemas, sem grades, nem paredes. Não há limitações, não há opressões, não há deveres, nem compromissos...
Você se livra de objetos pessoais, anéis, relógios, presilhas... buscando encontrar o que lhe da está sensação. Como nada muda, sua ansiedade aumenta e você cada vez mais se sente sufocado, preso... a cada tentativa frustada, mais se sufoca...
O desespero toma conta! Você pede a conta e vai embora...
Anda pelas ruas desnorteado, apertando o passo... como se estivesse sendo seguido... pelo ar fresco, a banhar sua pele que queima em agonia.
Num piscar de olhos está em casa.. ainda sufocado, tira as roupas.... vai pro banheiro, entra na ducha gelada... E a sensação é a mesma...
Só assim você percebe que não há nada prendendo seu corpo... o que te prende é ele mesmo.
Uma onda de pensamentos sem destino, nem remetente... de repente pairam sobre você. Dúvidas, perguntas... Uma sentença sobre si...
Alucinações?
Verdade?
Paranóia?
Realidade?
Você ainda não aceita a idéia de estar preso em si mesmo, parece absurdo, lhe soa com um tom levemente ofensor.
Então procura uma outra teoria, uma outra resposta...
Volta a mente aquele labirinto de pensamentos, idéias, medos, omissões, segredos...
Um labirinto sem paredes, sem trilhas... só perguntas... apenas perguntas....
Nesse meio tempo, isso acaba se tornando sua identidade...
Você não quer a verdade e agora seu destino é procurar algo para provar a si mesmo, que não precisa dela ou até que aquela não é a verdade...
Assim, não mais que de repente... Seus sentimentos, emoções, ações e reações... Todos passam a nascer deste seu novo ideal...
Ao fim da noite, não se sabe mais o que é prisão, quem é prisioneiro... Cai no abismo de si mesmo e se deixa perder.