Sociedade de espelhos

Sociedade de espelhos

Sociedade de espelhos

Quando o profeta olhou para o espelho e viu-se apenas como um homem comum, imperfeito e sujo, lágrimas rubras despejaram como torrente de sua face e rechearam o lago do húbris estilhaçado.

Viu que pessoas celebravam felizes em volta deste lago. Dançavam e cantavam alegremente. Apesar de suas lagrimas ajudarem a formar-lo, ela não pareciam tristes como o profeta. Sem se dar conta do que realmente estava acontecendo ele velou de longe esse estranho ritual.

Observou-os por tantas eras e ciclos que acabou por se enciumar daqueles pobres caçadores e caçados, alheios à sua própria ignorância. Neste momento, despencou de seu altar de vidro caindo na beira do lago e sendo vorazmente abraçado pelos que antes observava. Este foi seu batizado na Sociedade dos Espelhos Cegos, a casta dos juízes moribundos e espíritos doentes.

O profeta então lamentou por não estar mais acima do bem e do mal. Lamentou por não estar mais apenas observando. Seu lamento ecoou por tanto tempo que se tornou súplica. A sinfonia da suplica ressoou por tantos invernos que se transformou em rancor. E este rancor acabou por viciá-lo e converteu-se na única água de seu cálice. A água com a qual embriagava a si mesmo e a todos os consortes na sociedade.

A sociedade agora é a casa que ele nunca irá abandonar. Pois, foi na hipocrisia, no martírio e na cobiça que finalmente encontrou o que verdadeiramente procurava enquanto observava de longe os cânticos e as danças. O verdadeiro motivo de seu ciúme. O profeta encontrou companhia.