Decálogo de um velho visionário
"Todo o homem, por mais materialista que seja, vezes se torna panteísta e então sente a alma das coisas." (João Clímaco Bezerra, O Homem e Seu Cachorro, p. 39).
"A arte de envelhecer é encontrar pela busca determinada,
tal qual conquistador intimorato, persistente, incansável,
o prazer que todas as idades proporcionam, pois têm
essas frutuosas vivências as suas notáveis virtudes".
(Wilson Muniz Pereira)
1. Aproveita ao máximo teus momentos de felicidade,
arrisca-te, se preciso for, pois quando menos esperamos
iniciam-se períodos difíceis, sofridos, por demais árduos,
em nossas não menos insossas e incipientes vidas.
2. Tenha sempre em mente que, às vezes, tentar salvar
um relacionamento, manter um grande amor, pode ter um preço
muito alto se esse sentimento não for recíproco, pois em algum
outro momento essa pessoa irá te deixar e teu sofrimento será
ainda mais intenso, crudelíssimo, do que teria sido no passado.
3. Pode ser difícil fazer algumas escolhas mas, muitas vezes,
isso é necessário, existe uma diferença muito grande entre
aprender o caminho através do ensinamento alheio e percorrê-lo.
4. A tristeza pode ser intensa, mas jamais será eterna. Não há
mal que não tenha fim e bem que não se inicie com tua fé.
A felicidade pode demorar a chegar, mas o importante é que ela
venha para ficar e não esteja apenas de passagem, como acontece
com muitas pessoas que cruzam nosso caminho de inopino (supetão).
5. Não procure querer conhecer teu futuro antes da hora,
não exagera em teu sofrimento, nem te tornes irascível.
O ânimo vivaz te ensinará que esperar é dar uma chance à vida
para que ela coloque a pessoa certa, no momento exato, em teu caminho.
6. Às vezes as pessoas que amamos nos magoam, e nada podemos fazer senão continuar nossa jornada com nosso coração machucado.
Isso é provação divina e como tal deverá ser aceita de bom grado.
7. Às vezes nos falta esperança, vence-nos a ignomínia que barbariza
e nos desumana, conspurcando os ideais, maculando pensamentos
sãos, escanifrando rostos e secando olhos melífluos. No entanto,
quando não esperamos, alguém aparece para nos confortar.
8. Quando o amor nos machuca profundamente, recuperamos-nos devagar. Combalidos dessa ferida cruel e dolorosa, perdemos a fé, mas podemos, se quisermos, descobrir que temos que acreditar, dar uma chance a quem merece, tanto quanto necessitamos respirar. Isso é nossa razão de existir, purgando culpas pretéritas em sofridos períodos e progressos diversos.
9. Às vezes estamos sem rumo, procurando uma trilha, no meio de
centenas de pessoas, e a solidão, em conluio demoníaco com a saudade, com o vento, os morcegos e a treva medonha, aperta nossos corações pela falta de um ombro amigo, um abraço fraterno, um sorriso espontâneo.
10. Nesse instante poderá ocorrer o inesperado desencarne e uma alegria indivisível invadirá o espírito anunciando um novo alvorecer. Alguém caricioso, muito especial, nos conduzirá ao baluarte inexpugnável, radiante, onde rebrilham os oniscientes. Ali seremos abraçados pelos entes queridos, que há muito nos buscavam. Os corações uníssonos, como um diapasão superativado, na transmissão das emoções despertadas pela magia sempre sonhada, entram em nossas vidas e se tornam nossos reluzentes, enlevados ou excelsos, e mais que sublimes destinos.