Observador
Desfruto de um momento da vida deveras indizível. Me contradigo a todo o tempo e me parto em pedaços quando tento me remontar. Talvez estar inteiro não seja mesmo o que eu quero, caso contrário, não seria ambíguo com tanto gosto. Me parece insano o modo como as coisas rumam, visto que fogem ao meu controle tomando de mim também a sanidade. Sereno como nunca fui, observo apenas as ondas que batem na areia e o modo como a arrastam dentro de si para o mar e, confesso, me sinto como tal. Não posso conter todas as partes que o mundo me leva e as deixo apenas tornarem-se cicatrizes memoriais. Nos olhos ao redor eu vejo o total desentendimento de minhas palavras e sendo assim, quase parecem vãs. Quase parecem. Decerto são inúteis, considerando seu objetivo incompleto, mas nunca vãs. Acho graça de certas coisas, nessa fase, tomei gosto por analises. Coloco-me então a analisar: Muitas coisas acontecem, muitas pessoas passam, coisas se movem e retornam, mas qual é a diferença no fim? Eu ainda sou o mesmo e o mesmo que eu sou tenta incessantemente mudar o mesmo que me cerca. E me perguntas o que eu penso agora, como se esquecesse que o não mais o faço desde que deixei de viver e, pra sempre, me programei.