O Rei e o Bobo
Há uma antiga história a respeito de um Rei, que, de acordo com os custumes de antanho, possuia um Bobo da coorte. E a esses bobos era permitido falar a verdade, doesse a quem doesse. Se a mensagem fosse mui amarga, deveriam recordar-se de que eram apenas bobos.
Um dia, esse Rei deu ao seu bobo um cetro com sininhos doirados, dizendo-lhe a ele: Certamente, és o bobo mais bobo que existe. Contudo, quando, um dia, lograres algum mais bobo que tu, deves dá-lo a ele este cetro.
Ora, de uma feita, o Bobo quedou sabendo que o Rei iria fazer uma viagem. E foi o Bobo falar com o Rei, dizendo:
-Ó rei, soube que desejas fazer uma viagem.
-Não desejo, mas devo, respondeu o Rei.
-Então, há quem é maior e que decide as coisas acima dos homens, não? Mas, conta-me o rei, quando deves retornar?
-Não sejas tolo, meu bobo. De onde vou não se retorna.
-Mas quero crer que fizeste todas as preparações necessárias para esta viagem, meu senhor.
-Não. Eu não me preparei.
-Queres dizer que não tiveste tempo de preparar-te?, interpelou o Bobo.
-Na verdade, tive. Mas eu, insensato que sou, não me importei com tal cousa.
Então, o Bobo, vagarosamente, depositou junto ao Rei o cetro, dizendo: Certamente, és a pessoa mais boba que já vi. Porquanto, sabendo que deverias aprontar-te a uma viagem sem retorno, não te importaste.