A realidade só é vista e entendida pelos sábios ou pelos não ignorantes. As fantasias, as ilusões são criadas pelo ignorante porque este não entende a realidade. E por não entender a realidade isso lhe transtorna a mente, e gera em seu espírito muitos medos infundados. O ignorante teme a realidade (como se assombrava e atemorizava (ainda teme) com eclipses, por exemplo). A não compreensão da realidade faz com que o ignorante fuja do que existe de fato. Ele cria, então, uma “realidade” que ele entenda e na qual - ele acredita - possa se proteger. O homem ignorante, que não entende o ambiente que o cerca, cria lendas, ilusões. O que é a mitologia: é a história fabulosa dos deuses criada pelos hindus, pelos gregos e romanos. Os homens não entendiam os fenônemos que os cercavam, então, criavam histórias fabulosas, ou seja, histórias que não têm existência real, histórias oriundas da imaginação humana, histórias inventadas... Tanta imaginação não livrou o ignorante dos sofrimentos. Ao contrário, por crer em mentiras ele inúmeras vezes foi ao encontro das dificuldades, dos percalços, dos sofrimentos. Assim, todos aqueles deuses, com características bem humanas e que eram protagonistas de histórias fantásticas não impediram as derrotas individuais e coletivas. O homem perdeu tudo que tinha, se tornou escravo de outros reinos; os impérios foram derrotados e passaram a ser dominados por outros povos - que adoravam outros deuses... As derrotas, os sofrimentos foram fazendo o homem perceber que de nada adianta ter um sentimento religioso baseado no temor ou na ignorância, porque este só o leva a crer em deuses que jamais poderiam existir, a respeitar e cumprir falsos deveres, rituais esdrúxulos, esquisitos, incoerentes, por puro receio de que coisas medonhas, horríveis possam lhe atingir, se ele não as cumprir; e que coisas benéficas possam ser alcançadas, se a elas se sujeitar e executar. A verdade é que nunca somos alvo da “ira de Deus”: nem há necessidade disso, pois nossos próprios erros já nos encaminham para um dissabor ou sofrimento atroz. Não é “castigo de Deus”: é o resultado de nossas próprias ações. Não é “castigo de Deus”: estamos sendo alvo da ignorância de nossos pares, que nos perseguem, que nos roubam, que nos prendem, nos torturam e matam - por ainda serem escravos de uma das maiores ignorâncias: a inveja. O certo, o bom é o que nos traz bom êxito, sucesso, um resultado feliz. O errado, o mau é o que nos leva ao prejuízo, à doença, a tudo que for desfavorável a nós mesmos. Portanto, não adianta seguir uma ou mais religiões, todas frutos de invencionices humanas, se tudo que estivermos fazendo é errado. De nada adiantarão rituais extravagantes, absurdos, ridículos, com o uso de um vestuário espalhafatoso, e o recitar orações em idiomas estrangeiros (sendo que, na maioria das vezes, o cidadão não entenderia o texto nem que estivesse em seu próprio idioma); o fazer doações (que raríssimamente caem nas mãos de quem realmente precisa); o pagar dízimos (que só beneficiam e enriquecem as Igrejas)... Nenhuma destas (e outras práticas na maioria, enigmáticas, misteriosas, ou não totalmente compreensíveis) salvará o crente de contrariedades, desgostos, desgraças. É necessário, portanto, que olhemos para a nossa realidade sem as lentes da ilusão, da superstição. É preciso parar de querer distorcer as causas de nossos fracassos, pois isso só nos fará repetir indefinidamente os mesmos erros. É preciso se dedicar a entender causa e efeito em nossos próprios atos, para parar de culpar Deus pela morte de um ente querido, por exemplo, que só morreu em virtude de seu próprio desresgramento, ou da imprudência - dele mesmo ou de outros... Quando o homem entender que certos atos devem ser evitados porque o tornam uma pessoa prejudicial, lesiva, nociva, não confiável para a sociedade, será respeitoso e honesto mesmo que não haja leis para obrigá-lo a isso (porque terá entendido, afinal, por quais motivos deve respeitar os chamados princípios éticos e morais); quando o homem atingir esse estágio, terá aprendido a viver, e não mais sofrerá nem causará sofrimentos. E assim, também deixará de ter necessidade de pôr a culpa em algum ente divino ou em algum outro homem pelas suas próprias bobagens. Enquanto não atinge esse estágio, o homem segue mesmo em suas pajelanças e sendo derrotado por si mesmo...