ônus da sabedoria
*Duvidamos com justa razão, se tudo que nos cerca é real, porque no fundo, desejamos que realmente fossem imagináveis, sobretudo as coisas que nos perturbam e que contradizem a nossa inteligência. A razão no homem, por exemplo, nos põe em pavorosa. Este fato concreto nos foi revelado pela premeditação do mal. O que nos deixa ainda mais aflitos, é saber que somos vítimas de uma força, que invés de nos trazer segurança, nos causar receio de viver em sociedade. O medo da razão, do raciocínio dos nossos pares nos revela quanto somos frágeis e menores que os animais.
Quanto mais um homem avança em razão, em compreensão do mundo e da psicologia dos seres vivos, mais perigoso se torna para se próprio. Por isso eu recomendo aos sábios que não andem pelo meio da multidão, é imprescindível que se isolem. Não pensem meus caros amigos, homens superiores, senhores sapientíssimos, que vão encontrar um sábio junto a uma massa de seres brutos ou em meio a manada de asnos falantes. Quem procura sabedoria deve procurar no alto do monte, ou na torre mais alta, no meio do deserto, e não em planícies arejadas. Recomendo, portanto, para quem busca a eternidade: um jejum milenar, só sobreviverá para posteridades da sapiência quem for capaz de viver sem água e pão e peixes mortos que alimentam os tolos por um tempo, mas que logo lhes cobram os unos, seus corpos e mentes para alimentar os vermes da ignorância.
Zaratustra faz mais uma observação sobre a eternidade de um ser solitário:
“Ainda sobre a eternidade, como eu amo a eternidade! Nos delírios dos homens ouvi palavras que formavam as frases mais absurdas que se pode dar a luz em sã consciência, e todas começavam e terminavam com a palavra eternidade. Como eu amo a eternidade, a essência fundamental de todo niilismo do homem”.
“Não tenho nenhum nicho! Até as aves de rapina possuem um ambiente onde podem descansar da sua existência vulgar. Todavia, eu como espécie ou escopo humano não achei ainda uma cavidade onde possa passar um temporal, um abrigo para me proteger da minha própria consciência”.
do livro elogio à loucura de nietzsche