O coração

O coração enxerga apenas um amor. O amor único, especial para nós. Não pode ser outro, nem tem como ser outro. O coração ouve apenas um canto. Não sabe ouvir mais que um canto. É aquele único canto, não tem como ouvir outro. Na vã tentativa de enxergar vários amores o coração padece, a alma enublece e o espírito escurece. O coração sofre calado, angustiado e mal tratado, se lhe damos a condição de escolher. O coração não sabe escolher. Apenas ama, mas ama incondicionalmente com todas as forças que tem. Caso uma sereia lança-lhe o olhar do encantamento, o coração não vê, caso a cigana dance ao som de pandeiros, os ouvidos não escutam, e se a bela odalisca tenta provocar-lhe a volúpia, entumescem-se as emoções. O coração sabe amar verdadeiramente. É fiel aos encantos da amada. O coração é nobre e digno, ingênuo e malvado, sereno porém fugaz. Fugaz, pois efêmero é o ardor de uma paixão, e eterno é o beijo do afeto. O coração arde. Arde em chama que não queima. É fogo que não apaga e se cinzas há, muito amor foi feito em brasas.