Estrada de ferro da minha infância
Nos trilhos da minha infância, numa curva da montanha, apontava o vagão de madeira.
Corriam os meninos e as meninas... prá avistar junto à porteira. Cruzando os trilhos se chegava numa cachoeira com água forte pro banho na tarde quente. Mas na bica do padre, prá benção da tia comadre, só um fiozinho d´água corrente.
No casarão com paredes caiadas, os quartos com lençóis branquinhos, sabonete com perfume de rosa, e sobre o criado mudo a água de beber, com o sabor da moringa, fresquinha e gostosa.
Nas manhãs o pão quentinho, café com leite, os conselhos das mães... não corre... juízo... cuidado prá não se cortar... volta aqui menina!!!... e muita correria... último a chegar é a mulher do padre... sombra de amendoeira... o tronco queimado por um raio em noite de tempestade... muita brincadeira... esconde-esconde, pique-bandeira, chiclete de bola, o gosto do tutti-frutti... e muita pisada de tênis quichute!
O fim de tarde preguiçoso chegava com o canto da cigarra, menino caçava besouro prá assustar menina... e ela corria num gritinho dengoso. No avarandado com cadeiras de madeira escura as pessoas conversavam enquanto o pôr do sol acontecia no contorno das montanhas formando o desenho do horizonte. Os rapazes e as moças se reuniam no caramanchão, e os meninos e as meninas espiavam curiosos... pêra, uva ou maçã?
E as noites eram sempre com a lua, sob a vigília de um olhar materno
Vagalumes piscavam por perto seguidos por uma luz de lanterna
E nos trilhos da minha infância.... uma alegria eterna
...e os meninos e as meninas sempre contentes
caminhando sobre os dormentes...
( fragmentos das minhas lembranças de férias na Colônia em Francisco Fragoso... )