Não Perca pelo Vermelho
Quando chegar de manhã,
me chame de
amor,
quando chegar de manhã
esqueça nossa dor.
Errei, por errar,
sonhando em esteiras,
sofri meus alhos,
penei igual a
flecha certeira.
Mas agora,
dê uma volta
no meu espaço
que quis esmorecer,
e, em abraço,
com calor,
de um viva ao
nosso novo amor
que, ontem,
quase quis
morrer!
Teste o vão,
sem pender para
o azul.
Escorra na pedra
lavada,
eo resto de sal.
Modifique a chegada,
refaça-se no sol e na chuva,
deixe a levedura do tempo
banhar seu corpo alvo.
Sem remoçar, sem envelhecer -
mas se feneça de flores.
Debruce na escada
da casa dela.
Sorria para a esperança
de seus lábios.
Ela,vasta de amplexo,
e ágil mo manuseio
do meu pecado,
que a espera
em seu colo
toda de azul anil.
Seja vigoroso e não
permita reis nem rainhas
no sopro de sua cama.
Afinal, você é ela,
ela faz você!
E na matemática da
vida um mais um é igual a dois, mas
na matemática
do amor , um mais um,
será sempre um.
O Comprador de Estrelas
Hoje comprei estrelas,
todas, de par constante,
sempre de chinelas,
vagueavam em redor de
ternuras,
todas à procura
da magia de crianças.
Todas falavam a língua
dos reis,
todas vestiam alto,
e tinham lábios sedados
por saudades.
Rodeada de flores,
pareciam
encantadas
com os queridos presentes.
E trocavam conversas da vida.
Ao tilintar de taças,
logo no início do verão,
pois a festa foi dupla:
à noite
cheia de beijos e vinho
e até surgir o sol,
iluminando amores de ontem.
Pelo menos agora sei: agora tenho
a taça e o vinho e a água
fluindo de meus lábios,
e entroluzidas
pela euforia de graça.
Mais a festa não parava.
E eu pra ficar
tinha ordem mágica:
Quer ficar, fica,
mas
só comprando
mais estrelas.
(Poesia dedicada à Ticiana )
Ordenança das Pedras
Ordeno meus pensamentos,
onde toca a dança,
faço uma pedra
bem afeiçoada,
pedra bem ao gosto,
amarrotada pelo tempo,
esquecida no embrulho
da montanha.
Pedra que me faz pedra,
gente que me atiça adiante,
com fagulhas de ardósia,
criam uma moldura azul-afogueada,
e fazem
passos de um só homem
de uma vontade sem levantes.
Na vida, tudo amarroada!
Procuro lembranças dela
no pôr do sol,
onde desfila na vitrine,
vidas queridas,
carregando
bandeiras
feridas.
Mas, hoje sou eu que me perco
de saudade e sem vida,
a procura da moldura dela,
amanhã será você,
a procurar a verdade de tudo.
Mais virá tarde:
virá pedra sob pedra,
na ardósia da vida,
onde nada restou, senão pó,
de nosso grande amor gratinado
brotando só de adeus - sem Zeus -.
onde disso só viveu!
(Poesia dedicada à Ticiana )
Três Anzóis
Queria desenhar seu rosto
numa pedra amorfa e estilizada
para quando se for,
não fique só sua sombra,
mas o vivaz de coisa linda,
num afresco de medidas,
onde o amor brade,
e a paixão arde.
Fui de pouco. Cansei ao largo.
Sei que tinge seu rosto de brandura,
sei que nosso amor entrou por uma porta
e saiu por outra.
Mas um dia a tive com largura,
mas você fugiu com os albanos
aqueles que raptam saudades
e deixam lembranças de dor.
Se assim foi. Assim será.
Adeus, linda mulher,
de coração vigoroso.
Tenho três anzóis e um cesto
de peixes, para dar ao mais
saudoso:
aquele que um dia quase
morreu
por você,
por muito querer
e muito desejar!
Hoje o toque de brandura
nos cobre.
Passa tempo...passa tempo,
e só vivo de lembrar,
que um dia fomos
armadura de amor
e hoje, levedura
que amacia o agreste
de nosso todo vazio !
Sombra dos Sozinhos
Logo às seis, de começo e sem fim, te
abraço e te enlaço, e logo, pajéns
coloridos nos servem rosas e
esperanças e depositam também ramos
de dúvidas.
É manhã de Novo Dia.Uma densa mistura
de ontem e hoje.
Um caos apaziguado.
Sei gracioso, que é nosso início, sei ,
enlouquecido, que é também o prenúncio
do fim.
Que cidras sejam servidos e a cubram
de branco.
E que me survam vinho para
que os deuses que nos separam fique
sedentos.
Vou a caminho de um céu que não existe,
e você vai se banhar à sombra de
dos sozinhos.
( Poesia dedicada à Ticiana )
Estou Perto, Mas Estou Longe
São ramos
tortos
que enfeiam
a flor.
Minhas dores
são feitas de cor
azeda.
Coisa que ninguém
se atreve a provar.
E se provam do amargo,
doce deixo de ser.
E se passo,passo ao largo,
coisa de homem comum,
coroado de espinhos
do invisível.
Onde ninguém vê,
ninguém sabe!
Já fui pra não voltar,
já cheguei pra nunca sair.
Homem valente e amoroso
de duas portas!
Mas a porta bate duas
vezes,
cercada de som opaco;
se vai, sou eu,
se fica, fico sem ninguém,
com desdém e lágrimas.
Se parti,
foi um dia
sem cores.
No passado que não
tem nem mais nome.
Agora, me perdi no tempo,
já fui pro largo
dos desaparecidos
em plena vida !
E se é por pedir,
todo mundo pede:
volta, minha vida,
eu só sinto
dor!
E lá longe, me sinto
fraco e sem sentido,
pois
vivo com entreveros
dos que também
já se foram,
aventados por uma leve
brisa de primavera.
( Poesia dedicada à Ticiana )
No Caminho de João
No caminho de João
sofram ventos do leste:
daqueles que nascem nas montanhas
e vêm rebater em seu rosto
já amargo,corrido, sem frestas.
No caminho de João
há hora das tâmaras,
e dos sabias,
há hora de roçar as azaléas,
hora de ser criança
e se perder no tempo
que se ama.
No caminho de João
há festa de sol e mel,
brilho de magia,
abóboda de céus,
mantos coloridos
- quase casuais -
que pedem em seu cálido ombro
o de nome mulher.
No caminho de João há espera e vírgula solidão.
No caminho de João há ânsia no,
mascote aventureiro,
que um beijo sela
seu eterno pranto de todo
mulher!
(Poesia dedicada à Ticiana )
Próxima Agonia
procuro e procuro,
acho
e perco,
ganho e
disperso,
igual ventania
na fonte do ouro.
uma hora
é,
noutra, deixa de ser.
quando vejo, não acho,
quando acho,
já se foi.
contra o tempo
ela bateu.
mas,
virou
musa do
lascivo museu.
e nesta
história
que
tá
pra chegar,
perto de
mim,
é somente
uma baita
migração
de
saudade
da gente,
quando era
outrora.
uma lua
de
alucinação,
pois,
sou o que sou,
e só me perguntam
o que não sou.
não
sou nada
de alguma coisa,
vindo,
bendito
do zero,
que achou
e se perdeu
nas contas da
saia dela,
que sempre dizia
agora não,
ou
fica agendado pra próxima agonia.
(Poesia dedicada à Ticiana )
Nós seremos sempre dois. Nós seremos, em algum lugar do mundo, a continuação de outras vidas que passaram neste mundo. Por isso estamos nos procurando sempre em outras vidas. Que estão no passado ou no futuro. E, por isso, sofremos tanto. Somos amor e vivemos num tempo, que pode ser outro.Ou pode ser outro, daqui a cem anos.
Nós também somos o Pouso da Ave, que ainda não encontrou a magia do arvoredo.
Nicarágua : Parecido, Mas Nem Tanto
A Nicarágua tem um dos regimes mais autoritários da América Latina, que se intensificou na volta de Daniel Ortega ao poder em 2007;
Há uma piora contínua, contudo, desde a repressão maciça e violações de direitos humanos nos protestos antigoverno de 2018;
O regime aparelhou o Judiciário e aliados na Assembleia Nacional aprovaram em 2013 a reeleição sem limites, facilitando a perpetuidade de Ortega;
Vozes críticas são sistematicamente presas, silenciadas e torturadas, com um número de presos políticos apenas inferior ao de Cuba e Venezuela na região;
Mais de 222 prisioneiros foram libertados em fevereiro, mas mandados para os EUA e transformados em apátridas devido à "traição" ao país;
Mais de 3 mil ONGs já foram fechadas ou tiveram bens confiscados. Há uma perseguição constante contra a já sofrida Igreja Católica. A Imprensa praticamente acabou, pois o governo cuidou de calar o jornalismo. Os jornais que ainda circulam ( dominados pelo governo ), elogiam diariamente os feitos extraordinários de Ortega. Mas o povo passa fome. A CNN resolveu deixar o país.
O país é alvo de sanções americanas e da UE, que prejudicam ainda mais uma economia já debilitada.
O Governo, de revolucionário passou a autocrata
A Nicarágua vive um dos mais brutais regimes autoritários da América Latina. ( O Globo )
Os Melhores Anos de Nossas Vida
Os melhores anos de nossas vida foram aqueles que já esquecemos.
Santuário do Coração
Simples, de tão simples,
é o modo mais fácil
de esquecer sua vida,
vida, que um dia,
foi minha.
Simples de tão simples
é percorrer seus olhos
que marejam alegrias de hoje,
e se retorcem nos caminhos de ontem,
que foi sua vida.
Simpes de tão simples
é ser você mulher
da cidade que não me
procura nos campos,
onde enxugo o calor do sol
e plaino no vento que de tão ameno
vira doce de criança.
Simples de tão simples
é se acomodar
na hora do passado
onde viveu
cem vezes
e por cem vezes fui negado.
O amor eterno que
plantamos em qualquer
lugar de terra firme,
virou desmanche de tropa,
corrida da gazelas,
morte de frente
e todo amor esquecido.
E no próximo futuro,
se duas vidas nascerem
uma prá outra,
deixe sempre assim:
você prá mim,
eu, prá você.
Só Saudades
Amor da Gente
Amor grande
corre além
do tempo.
Amor grande
bate forte
feito oração.
Amor grande
não se sente
todo assim,
pois corre
sem hora marcada,
sem folhinha rabiscada.
Amor da gente
pende para os
anjos
lá na catedral
das orações,
por nosso amor.
Se sou livre,sou agora,
sou amante,
sou sempre
e confidente.
Águia de ouro,
bebedouro de aves.
Azaléas ao vento,
além de amigos,
pois agora,
somos botijas de amor
que nasce
e nunca perde o encanto
onde só o vento acalanta.
Amor da gente
é pra sempre,
sem nove horas,
sem lágrima de pedra.
Amor da gente
é tão grande que, às vezes,
nem nesse mundo cabe :
mora direto
nas ávidas centopéias
das estrelas.
O Túnel que Não Existia
no fim do túnel
tinha outro
túnel e, depois,
do primeiro,
tinha o terceiro,
mas tinha que,
por nesga ação,
e imprudente
movimento,
passar
pelo segundo.
estava eu novamente
no caos do túneis,
sabendo que nenhum
deles
levava a nada.
e, por anseio de vida,
passei a procurar,
e depois desejar
a saída.
mas não havia
nem entradas
nem mais
saídas.
e fiquei conhecido
como o homem
dos túneis, das
trevas,
onde a saída
era a mesma da
entrada
e a entrada
era o início
da saída,
que não existia !
por zeus !
sou homem
sem idas
e sem voltas !
sou o homem
do simples
adeus !
sou de carmim
sem peso,
sem mais amor,
devedor
da vida,
e morrendo
no escuro
das lápides
sem afins !
e nesse caos, e entretanto,
apesar de tudo,
lá cheguei a conclusão,
que eu não existia.
(Poesia dedicada à Ticiana )
Armadilhas
Montanha Azul
vem...vem devagar,
não sou fraude
nem penso em
tal,ser frade!
só quero que venha
bem devagar,
sem alarde.
notícias daqui
são vaporosas,
nasce daqui,
morre dali,
nada invulgar,
nada tem
em polvorosa.
Espero, vem devagar,
espero no sopé da
montanha azul,
lá onde os homens
se escondem
e não tem esquinas,
e o vento bate
meigo,
mas de arrasar.
Vem, vem
bem devagar,
sofro de amor
súbito;
se ver você
de novo
não sei se choro,
ou me alegro,
de tanta esperança
e saudades, de
tanto amor,
escondido,
mas,embutido.
Vem, sou vento
colorido,feito
pra dar !
Sou da montanha
pois vales nunca vi;
sei de estórias
que lá sopra vento
de arredar.
Vivo feliz,
na montanha azul,
desenhando flores
nos jardins de pedra,
pra quando você
chegar.
E debruçar seu frio
sobre a saia azul,
e seus beijos
desenhar nos
meus lábios
doces e gélidos,
igual a uma
doce têmpera
de febra !
( Poesia dedicada à Ticiana )
Tudo Igual e Bem Diferente
É com o passar dos dias
que a gente vê que as coisas
estão ficando cada vez mais
iguais.
Muda pra cá, muda pra lá,
conforme e disformes,
traça a roela,
e as coisas rodopiam
pelo mesmo.
Impassível de se mudar.
Quer dizer, mudam as roupas,
os sonhos endiabrados,
o rosto das mulheres
de batom e homens vestidos
de carmim,
mas mudar, não mudam não.
O pensamento avança um pouco:
o que se falava ontem
não se entende hoje.
Mas sempre foi assim:
nossa Idade Média está cada
vez mais próspera de mortes
e guerras geniais
pelo poder.
Ganha quem corre mais,
quem é o mais bonito,
que de altura tem mais,
quem é diferente da gente e,
pricipalmente, quem tem
no cardápio do dia,
e todo dia,
um negócio chamado de poder.
no cardápio de todo dia.
Estes pensam que mudam,
mas quem muda é o passar
dos dias:
onde fica tudo igual às coisas
diferentes, mas que são iguais.
De rotina em rotina
a gente aprende que de tudo,
nada muda.
Há mil anos já era assim.
Amores iguais,
traições repetidas.
Daqui há uma centena de anos
outros homens,
vão pensar que estão
mudando, mas estão
fazendo o igual do
ontem.
E toda gente que é, já
deixou de ser,
mas vão surgir outros,
iguais, com roupas
diferentes.
Nisso tudo, no tempo igual.
O que me resta, é o pranto
e cantos frugais
de vários anseios
que, pelo caminho, ficaram.
Tudo, é fruto da eternidade.
E é pra lá que todo mundo vai.
Onde tudo vive em meras e
rotineiras lembranças
do ontem que não idade.
Como tudo é igual e diferente,
o agora, como antes, se torna parecido.
E, o amanhã, se torna uma
ilusória alternativa
de um tempo ,dentro
de outro.
( Poesia dedicada à Ticiana )
Pura História Simples
Canto o canto dos dias,
canto os pássaros,
a meiga paisagem,
a torta de amoras,
canto a faina dos
homens embriagados.
Canto o próximo como se a mim
fosse um pedaço de outro eu,
entrelaçado por fortes
cordas de amores cedidos.
Meu canto é seu canto,
minha voz é a sua,
meu desejo é você.
Mas que fazer?
Dúbia encruzilhada,
prepararam esses deuses,
nada patrióticos.
E como nasce o
sol de repente,
sem remendos,
ela, sem meigos, disse
adeus.
Pura história simples,
sem estrias.
Só dor de amargo.
Dor sem fim.
E pensei comigo:
só na Somália!
Descobre-se a morte
dentro da vida.
Aqui, no meu canto,
de pouca valia,
e nenhum dengo,
peço por ela.
Dê a mão
e cruze meu destino com o
seu.
É fácil: é só atravessar
um imenso campo de trigo
e, lá no final,
você vai encontrar um rútilo
espantalho.
É isso que sou da vida.
Ou que a vida fez comigo.
(Poesia dedicada à Ticiana )
Passo Que Não Passo
na página de sua imagem,
dobro e redobro,
suas cores de ser linda
e esconder
todas elas,
sob o seu leito de noite,
para a feitura de seus dias.
passo, que não passo,
cada momento -
momentos da vida -
procurando a sua,
já acobertada de fugas..
passo, que não passo,
cada segundo,
procurando o fio
que faz o início,
que preparou pra mim,
a feitura mais bela,
a cor mais perfeita.
o cetim é o mais puro,
mas também é
o dormitório dos chegados,
a ternura de fazer palavras,
para a donzela
de três encantos.
faço que não faço
uma vida com suas bênçãos,
para achar
o céu em você.
perco que não perco
as estrelas te cortejando,
fazendo sua, minha mulher,
minha esperança,
só de vida,
e de paz coerente.
Viva você,
um achado de estrelas.
meu início, sem fim,
que fez em mim
um porto
de chegada,
e nos tornou
eternas mãos escorridas por rosas de nossa saudade.
(Poesia dedicada à Ticiana )
————
E Tudo se Foi
Foi coisa de verdade:
lá, onde as pessoas grandes
aprendem a ferir!
Foi tão isolado como
o céu, quando vai dormir;
tão só como o sol,
quando vai escaldar
os de classe, ou
passageiros:
os pingentes sem lar!
E tudo se foi
como se foi,
tudo que acabou.
Aliás, na manhã que
nos perdemos eu ainda
disse: não adianta forçar
o destino.As amarras
estão presas em
algum porto.
Quando ele revoa alado
para trás, não há sobreviventes
de tal aventura amargurada.
E só há um destino
agora e de passagem:
vá, pega sua manta azulada de
orvalho,
e vá viver no mundo do sonho
corrido, onde fadas do além
te esperam ansiosas por te conhecerem:
aquelas de mil dotes mas
sem, no coração, de archotes,
formado apenas
de fogo e lâminas de guerra!
(Poesia dedicada à Ticiana )
Flauta Mágica
Sonolentas as manhãs,
que se desdobram em luzes,
e se abrem os pássaros
ao sol; rebatem-se ao
vento que tem a medida
certa de cada voo.
Se ela soubesse o que eu sei
esta manhã,
Se ela ela imaginasse ao certo
esta manhã,
estaríamos juntos na amplitude
do espetáculo matinal,
à espera de que nos nutrissem
de ânsias e desejos.
Mas de longe, sentado,
ao largo de um banco úmido
de orvalho, batido pela madrugada
sabemos que perdemos o que
nunca tivemos,
e deixamos de ser
aquilo que sempre éramos:
música de sonho,
flauta mágica que nascia
quando o verbo da
carne falava
através dos desejos úmidos;
das testas empoadas de suor.
Assim foi uma única
vez:
o que vinha numa direção
rebateu-se noutra,
e a paz que era duradoura
virou pacto de ausências.
Hoje, sabemos nós,
estamos sós,
perdidos em dois
espaços, onde, soslaio,
não há mais tempo.
Nem para ir nem para voltar.
Duendes mágicos trataram de nos
fazer coisa passageira, cobertas
com dobradiças de ouro e almejadas
de beijos e abraços que, nunca,
nunca, chegaram por aqui,
na minha velha choupana:
antro apaziguado
dos desejos e da solidão
que se mede ao vento
e bate afônica até às lágrimas.
(Poesia dedicada à Ticiana )
O Contrário e o Avesso
eu sou
o contrário
e o avesso.
o princípio
e o fim.
sou
as costas,
o perfil,
a máquina,
o sabor
a fruta.
eu sou o conflito
que obedece
e aflita.
eu sou o nada
eu sou o princípio,
as vestes
dos vivos,
e paramentos
do mortos.
se sou assim,
feliz, não sou assim.
é uma espécie de história que não tem fim
e ferido, procuro por ela,
mas ela não quer me achar !
e eu quero encontrar o que já foi,
levando todos os jasmins
de meu jardim dolorido !
(Poesia dedicada à Ticiana )
Pedra Fria
Longe do esplendor do sol,
cabisbaixo diante de tanta luz,
oneroso de tanta grandiosidade,
pérgulo, sem sombra,oviso,
sem ramos de brilhos,
sem luas tímidas a remoer
o sol de grandezas, fico eu,
olhando o início e o fim das coisas
que não tem a mínima carência,
nem para o céu, nem para a terra.
Para mim, porém,
escravo do tempo e das coisas,
que fazem a mágica se remediar,
parar e se transformar,
hoje é meu dia de festa.
E se faço a festa, levo o bolo.
E se há luz neste borborinho
de maravilhas,
me sinto atonteado
por estar vivo e compreender
que cada pedaço do que vejo,
é um pedaço de mim, é um manto do outro
É o jardim avulso da vida. E viramos
pedra fria dos deuses.
(Poesia dedicada à Ticiana )
Mal Que Passo
Mal que passo,
mal que redobro,
mal de amor,
que me dobra.
Mal que vivo
dia sim, dia não,
da glória revivo:
de mãos dadas!
dúzias de vezes !
Dia que passa,
hora que atrasa,
dias sem horas,
minutos, em fila,
e só segundos tortos.
Se raio, esbanjo sua luz,
se procuro o que não acho
é às avessas.
Ao revés,
tudo plano,
igual gaivota
que, doce no ar,
resplande no céu
metrado.
Se atraso
sou perca das horas,
se adianto,
não resolve:
o amor tem hora marcada.
Se perdi você foi você
e por coincidência:
duas estrelas,
bem abandonadas, se
chocaram
no mais alto dos céus.
Badeio lá pro norte
ela foi sugada pela morte.
Agora fiquei eu,
sem bandeira e alforje;
agora só sonhando:
só no Mal Que Passo !
Caminho, mansinho,
acordar ela.
E ela não existe
nem lá nem aqui !
(Poesia dedicada à Ticiana )
Castelo do Vazio
Sombras de castelos que me
assustam;
redimidos arbustos
de uma noite avorenta
que me amaciam as
lembranças,
como fotos esquecidas.
De dois lados caminham
o improvável;
de dois lados
me arredam lembranças
que fim não terão,
nesta vida
de pouco sol.
Grumetes alvoroçados
anunciam uma nova terra;
capitães de bordo
tocam o alvorecer;
e a nave sem rumo
finalmente
encontra sua terra
salpicada de
paisagens vazias.
A vida se passa naquele
momento:
ontem foi agora,
amanhã não tem hora.
Debruçado em minhas
lembranças - até estranhas,
vejo mares, jovens e castelos,
todos coloridos pelo tempo,
cujo nome é dado e
renegado aos passantes
em prumo.
E se por tudo isso
alcanço agora o esplendor do
nada, sinto. E que seja por
causa dela !
Uma vez chegada de rainha,
outra vez, de saída,
com plumas de adeus.
( Poesia dedicada à Ticiana )
Perolado de Carmim
Perolado de Carmim
A vez não tem
hora
e quando chega,
é a sua.
Foi assim a vida toda:
ela, de blusa de cachemira
vermelha,
-veludo carmim - ,
sedosa,pura, cheirosa,
eivando o espírito mais
simples,
transcendendo a
própria imortalidade.
Mas teve a vez:
o perfume se foi
como voam àsperos,
do frio, as andorras.
O cheiro se transformou
em âmago de nogueiras,
em córrego passageiro.
Mas teve a vez,
o corpo
que não era dela,
nem de mim próprio,
o meu, sem dono,
se foi com o tempo.
Agora com o
jardim já seco
batido pelo sol,
meado de fome,
tem a luz que sufoca
as plantas róseas mal vestidas,
e árvores quase secas.
E assim se foi.
A imortalidade tem um nome
bem comum,
Que poucos ousam falar:
Tem nome de ontem
dia vinte e pouco
do ano nosso de
cada dia,
de cada minuto
que sufoca
a respiração da gente.
E dissemos goodbye!
No típico Bogart!
Mas saudade tem nome,
sim senhor:
ventre escorrido -
de lágrimas do algoz
cavalheiro -
que agora só, é pedra !
E pedra contra pedra vira a eterna distância.
(Poesia dedicada à Ticiana )
Roupa de Passar
Vim do próximo
e acabei distante.
Hora de um,
roda de outro outro,
e chega a vez do próximo
tudo numa reza só.
Nesta festa de ausência,
sou roupa de passar,
estou sempre voltando
pro mesmo lugar.
Largo tempo
de meu tempo,
de
minhas coisas
sem nomes.
Largo tempo,
e não perdôo,
todo se foi
vestido de garoto
de festa comum.
Largo tempo,
que já não tem sobras,
e delas não cobro;
e se você olhar
pros lados
vai ver que minha
história tem sua estafa.
Estamos sempre perdendo
pro tempo,
este, augusto, aproveita
pra levar todos, de um pouco
de nós, que vivem no brando
mas morrendo.
Somos roupas de passar,
brevidade das horas,
suave amanhecer desconhecido,
onde cotovias anunciam
uma nova vida
que morreu.
E meu
medo já é conhecido e ardente.
E, dizem,lá onde moram:
o sol tem receio de estrelas
muito puras e candentes.
(Poesia dedicada à Ticiana )
Bruma da Noite
Me perco devagar
na bruma da noite
que se aproxima.
São as incógnitas
da vida que deixei
de viver.
Me perco em seu corpo
que viaja longe,
sem destino, abusando
das graças do passado,
evitando o presente,
refazendo imagens
do futuro,
onde minha fuga
é de fogo e dor.
Viajo devagar,
pois meu corpo
nunca teve dono.
Se teve,
está perdido na corrida
do tempo,
entre as estrias de um suspiro
e de um beijo.
Se falho em perguntar,
falho pela minha ansiedade,
pois se você é você,
cheia de graça e harmonia,
mulher de dois mundos,
e com o poder dos deuses,
para desazer e compor,
então, volta para
meu corpo
pois ele dorme lento
arremetado de paixões
e finuras de esperanças.
E que um dia bata na minha
porta
e diga:
meu senhor:
sou sua aventura,
seu agasalho,
sou sua estrela,
que amaina sua dor,
e um dia seremos um.
quando a
próxima eternidade
chegar.
(Poesia dedicada à Ticiana )
Sentinela do Amor
me preparei,
mas me contive,
estanquei,
depois fui em frente,
mas parei.
afinal era eu homem
sem lei !
pensei
duas,
três
vezes:
eu era
afinal
um erro.
era a
hora errada
dos homens !
mas a queda
foi
de pulo,
ganhei
o espaço.
o voo foi livre,
igual pássaro
redimido.
fui e fui
igual a
homem puro,
que era grande
mas ficou pequeno,
o que era pequeno
virou escuro.
ah! afinal!
estava livre.
dizem lá as
más linguas:
é ridículo!
isso
é suicídio !
e foi.
mas não doeu.
acho que não.
pois o aprendiz
da morte,
também têm
feitiço de prontidão,
pra ver o rumo
que toma
aquele que fugiu
do amor e da
multidão e se refugiou no escuro.
( Poesia dedicada à Ticiana )
Todo Mundo Torto
Estão as coisas lá
ficando tortas?
Ou tá ficando
todo mundo torto?
Piso torto,
ando torto,
falo favelado,
corro de lado,
penso enviezado,
amo sem ângulo
e me pertubam
os apressados!
As coisas estão lá ficando
tortas?
As pessoas agem tortas,
brigam tortas,
mas jogam bombas de mira.
Elas se casam sem saber,
mas sempre tortas.
Tem filhos
e não sabem disso.
Já disse pra minha vizinha,
se está todo mundo assim,
como andará o nosso mundo
redondo,
que roda em asas tortas?
E discutem abanados,
e dizem que são,
mas não são.
No púrpuro,
lá brigam tontas,
igual a galo em rinha!
No fim, mortos e feridos,
mas quem se importa
isso ?
O angelical foge pela porta dos fundos
e o mal começa seu reino, com alegria dos queridos !
(Poesia dedicada à Ticiana )
Urso Branco
Uma coisa de cada vez,
que seja sem impacto
ou lágrimas.
Uma coisa por vez
que seja você
meu amor de fato,
mas sempre com
medo do urso branco.
Que passem os primeiros,
depois os segundos.
Fico por último.
Minha fila é curta e tem nódoas,
tem lembranças, muros
de ferro,
fornalhas de queimar
e gente que sobe e desce
e tem sempre uma escada sempre de subir.
Que se não é a vida,
é a chegada da chama sem fogo.
Uma coisa de cada vez,
não sou prumo de muro,
nem argamaça de paredes.
Sou azul, da cor do
céu,
e de breu,
quando cai à noite.
Passem um e dois.
Fico por aqui porque
minha vez
não é essa.
Uma coisa de cada vez,
e que ninguém chore em vão.
Há guerras por ai,
desastres há toda hora.
Coisas mais sérias é que
os homens são donos de outros homens.
São parte da cavaria dos duendes , que se acham deuses.
Mas são os croatas com fundo de sangue e espadas de brilho.
Por isso, vou devagar.
Minha trilha é temerosa
e de poucos metros.
Um sobe,
outro desce.
Mas estou nela.
Caminho de seguir, mas não sei
de bem, se estou vivo
mas sirvo ostras para os rei.
Ou mortos de carmim!
Mal sinal...mal sinal!
Mas ainda consigo pensar nela
e saber que tudo isso
existe, mas, às vezes, só na terça tem vida.
E se estou aqui
é porque me querem.
Mas já me vou, pela mesmo
caminho que me trouxe.
Se ele me leva lá,
não sei.
Mas parado não fico!
Os parados são alvos de flechas,
e de inquisidores.
Vou andando na trilha dela.
Se encontrar, muito bem,
senão, não volto, pelo
mesmo caminho.
Mas que seja uma coisa
de cada vez.
E não é Natal.
Mas é festa pra doer -
eu aqui, ela lá.
E meu mundo se esbalda
na fresta do caldo,
com sal e doce dos alados !
(Poeia dedicada à Ticiana )
Abafa Seu Encanto
Redemoinhos de faces
me atrelam a um passado
escorregadio.
Olho atrás,
e só vejo embaços, riscos,
num espelho bizantino.
Se queres amar, se aproxima,
faz um canto, proleia tal amor,
e deste, imploro!
Juro, serei sempre
sua dor .
Mas reanima sua doce voz,
entoa o hino de sua presença,
e escreve minha sentença.
Tenra beleza !
É seu encanto
que abafa o
meu pranto !
(Dedicado à Ticiana )