Apelidado desgraçado;
inquieto rude homem,
um cavaleiro sem ordem
na lei da espada, forçado.
Andante no seu cavalo,
uma arma, sábio campeiro,
de nada foste herdeiro.
Nas estradas aos destinos,
matas e campos sulinos,
sem ter consigo algum luzeiro.
Sem luxo e sem regalia,
com um afiado facão;
trabalhando de peão
com força e sabedoria,
comandou cavalaria,
ouviu alerta de tambor.
Mercenário, saqueador,
andou mapas, desgraçado,
ser humano, renegado,
farrapo, grito e temor.
Por toda a elite, maldito,
sem fé, riquezas e sorte,
só o que sobra ao fim é morte.
Descendente de nativos,
ou então de negros cativos,
filho de distantes terras.
É veterano de guerras,
vivendo por conta própria
ao destino sem vitória;
ao confim onde se encerra.
Na busca pelo alimento,
no pampa puxando arado,
com fome, rosto enrugado,
atento no movimento
e sem possuir documento,
conhecido pelo olhar.
Quem faz todo canto um lar;
Combates, guerras e honra,
sem datas, semanas, horas,
apenas, só cavalgar.
Talvez amaldiçoado:
Quando pode compra milho,
sem casa, fora dos trilhos,
sem rumos, um desgraçado,
coração despedaçado.
Da força como sua gente,
fez cidades em repente,
fez campos e criou gado
antes de cantar o galo
ou ficar fraco e doente.
Na cultura de homens fortes:
Rio Grand'o Sul, Argentina,
Uruguai e Chile, sua sina;
identidade em bigodes;
ricos pobres, homens nobres,
farrapos, trabalhadores,
ginetes e lavradores,
lutaram aos quatro ventos,
por livre seus descendentes...
E em seus túmulos não há flores.