Pajada e Guitarra
Pajador vago solitário,
apelidado ultrapassado,
sem ser covarde por calado
sobre a visão deste cenário.
No verbo canto igual canário,
poesias em versos do que anoto.
Sem ser bem-vindo, aqui não volto
e limpo o pó de minhas solas.
Que não preciso das esmolas,
ao mesmo modo que não voto.
Por entre as cordas da guitarra
me querem sujo até enforcado.
Pela voz hei ser libertado,
abro a garganta igual cigarra,
faço da língua minha garra.
Pela raiz que não me calo,
de coração tudo isso faço,
a minha mão por cima pesa,
minha palavra vira pedra,
ao meu ouvido me fiz galo.
Neste universo tem dos tantos,
ainda há loucos no falar
sem o instrumento se calar.
Há melodias de grossos cantos
que nos ouvidos causa espantos,
mas traz histórias do passado.
Que meu ser não fica cansado,
se inquieta, pensa e faz rabiscos,
se aquieta ao versar paraísos,
que meu ser fica desgastado.
Meu grito ecoa como trovão,
faço da voz, a tempestade,
que soa no campo e na cidade
como um relâmpago verão
e a minha voz escutarão.
Trago raízes como base,
sou fruto e suor de minhas fazes.
Hoje, o que vejo versarei;
Amanhã, bem descansarei,
sem precisar de fazer pazes.
Ao renascer dentre dos mortos,
passei meus dedos dentre as cordas,
me coloquei sob muitas provas;
cantei milongas para os povos
contando enfermos destroços,
contos de um mundo que maldito
como de um verso destruído.
Este viver me dá histórias,
momentos bons e mais memórias,
porém pai, leve-me contigo!