PAYADA AO VELHO LAURINDO

Sorvendo um amargo solito

Contemplando o entardecer,

Não tem como eu não lembrar

Daquele sábio sorrindo,

Mesmo em algum padecer,

Pois se estava indo ou vindo,

Sabia soltar seu grito,

Que ecoava no infinito,

Oigale estampa de gaúcho,

Falo do velho Laurindo!

Na lida de campo um professor,

A cavalo era um monarca,

Na vida com imenso amor,

Sempre tinha o que ensinar.

Juntava as letras pra ler,

Um bilhete curto escrevia,

Mas tem moço adoutorado

Que não tem o conteúdo

Daquele homem, simples e sincero,

Lhe confesso, pois isso é tudo!

Tinha momentos de quietude,

Outros tantos de oração,

Fazia a filantropia com magnitude,

Lembrando que a caridade alardeada,

Não possui significado,

Serve para buscar aprovação

Da sociedade esbaldada

Em formalismos e preconceitos,

Aos quais devemos distância,

Já que impróprios ao homem direito!

E como bom cidadão,

Não era alheio à Política,

Sempre em defesa do irmão,

Desafortunado e sem crítica,

Merecia lhe estendesse a mão!

Em época de eleição, montado em seu tordilho,

Saía de casa em casa, com panfletos na garupa

Os quais hoje não têm graça,

Mas neles havia o rumo do trilho

Que não desvia e agrupa!

Aquele velho era sábio! Isso era!

Defendia a liberdade com ardor e segurança,

Não aceitava cabresto, não se metia em lambança,

Respeitava qualquer cuera,

Inclusive uma criança,

Que aliás muitas criou as mantendo no amor

Mostrando que Nosso Senhor

Quer do homem rumo e prumo,

Humildade, fé e esperança

Que são do viver um resumo!

Assim se passou o tempo!

A Medicina era curta,

Seu coração a destempo

Lhe deixou como quem furta

De um taura o sopro da vida!

Com sessenta e oito de idade,

Se transformou em saudade

Inda hoje sentida,

Por seus parentes e amigos,

Com extrema lealdade!

Eu creio na Divindade!

Isso aprendi com esse índio

Descrito em meus parcos versos.

Por isso, com devoção,

Peço à Santíssima Trindade

Que jamais o esqueça no Universo

Em que sua alma ameríndia andar.

Destacando algum potreiro,

Com manada, rebanho e tropa,

Onde ele possa lidar!