PAYADA DO MAL-ENTENDIDO

PAYADA DO MAL-ENTENDIDO

Foi no Terceiro Distrito que esse causo aconteceu,

Época de colheita de milho num tempo de dificuldade,

Pois não havia maquinário, tudo feito à mão cheia de calosidade,

Pois foi assim que o fato ocorreu:

Faeco tinha uma lavoura que estava no apogeu,

Por isso da colheita cuidava com suas peculiaridades,

Orientando a peonada para que tudo desse certo,

Foi quando o índio Anélio, não suportando o peso do balaio,

Caiu como um cavalo baio resvalando num lançante,

Provocando risos e piadas até um tanto ignorantes,

Até mesmo o Faeco, num relance e de soslaio,

Soltou quase que inconsciente que Anélio era uma galinha!

Terminada a caçoada, todos voltaram ao trabalho,

Afinal esse era o ordálio da indiada que não dobrava a espinha,

Foi quando a carreta cheia do produto já colhido,

Deu sinal que uma roda apresentava perigo.

Faeco, que conduzia o velho carro campeiro,

Identificou de imediato o que havia sucedido,

E se prevalecendo da força de que era dotado,

Suspendeu com algum esforço o rodado,

Pedindo que um peão o auxiliasse com cuidado,

E Anélio se aproveitando da situação barbaresca,

Não esquecendo da troça de que tinha sido alvo,

Encostou sua carneadeira na garganta de Faeco,

E quase que num urro de desabafo, de índio grosso e insultado,

Indagou como num num grosnado tendo na outra mão a bainha:

E agora Faeco, me diz, sou galo ou sou galinha?

Chegaram os apartadores e tudo foi resolvido,

Afinal a amizade era mais forte entre ambos,

Do que qualquer mal-entendido!