PAYADA DO ASSUSTADO

O índio era um índio maula, mas temia a divindade!

Quando avistava o perigo não sabia se portar.

Na palavra era valente, mas medroso barbaridade!

Certa feita na mangueira, em dia de marcação,

Sua missão era a de terneiros apartar,

Quando uma vaca zebua, aspuda e cheia de maldade,

Vislumbrando que a situação mostrava risco à sua cria,

Bufou e escarvou, indicando ao medroso o início de um furacão!

Não deu outra, e se lhe veio, atropelando pra matar!

Foi quando o xiru se viu entre as aspas e o tapume.

Deixou o medo de lado e buscou seu 44 nagão.

Fez mira na cabeça da vaca que lhe vinha em supetão.

Antes de apertar o dedo no gatilho do revólver,

O destino se modificou com o barro e o estrume,

Fazendo com que a fera sofresse um baita escorregão,

Caindo de todo corpo metros antes de atacar,

Provocando na peonada um alvoroço medonho

Afinal, o índio apartador, tido como assustado,

Na proeza da paciência e seguindo o costume

Das lidas campeiras e, quase que como num sonho.

Havia poupado a vida daquela mãe que defendia,

Por instinto natural, a integridade de sua cria!

São lições de pureza com esse causo aqui contado,

Que a lida de campo mostra num estrondo,

À vezes com doçura outra com azedume.

Entretanto, no barbaresco enredado,

O campeiro mostra alegre ou tristonho

O permanente aprendizado que um dia

Se apresenta o desafio enfadonho

Onde deve imperar a mais pura filosofia!