Payada para um negro triste
A vida é de muitos enganos, mas sempre para profanos!
Uns vão bem, outros se vão triste também!
Afinal negro é quem tem tutano,
Monta no aragano e volteia sobre a cincha!
Talvez seja um gesto de dizer Amém!
Negro, amigo, ladino e um pouco injustiçado!
Culpado mesmo não sei, pois conheço seu passado.
Por nome lhe deram Santo, Salvador por sobrenome!
Com um modo de falar bem engraçado.
Um guapo, um homem e um trilho!
Daqueles que andam num potrilho,
De velhas roupas gaudérias, no dizer de Caetano,
Aqueles que nas sangrias sérias sabem bem procurar
Teia de aranha para o sangue estancar,
Ah, como aquele peão sabia um potro domar!
Agora beirando os setenta anos de pura história,
Pensativo o encontramos com lembrança aleatória,
Às vezes se lamentando e outras com sabor instintivo
Por ter vivido grandes glórias,
As quais servem como alento e lenitivo.
Para manter sua memória!
Muitas vezes em sua vida era como um proscrito,
Juntando derrotas e vitórias.
Das lidas guapas e campeiras do altar da montaria,
Fazia cada proeza que até parecia um rito,
De quem transforma o infortúnio em gostosa zombaria!
Estivesse em seu canto, lá no Terceiro Distrito,
Ou, então, na calmaria das Lagoas do Palmar,
Tinha no peito o entono capaz de lhe impulsionar o grito:
Sou negro, macho e amigo, muito tenho a lhes contar!