Diante do PAI

E eu tenho a minha alma mas ainda não ouso dizer tenho a minha alma e nenhuma certeza, e só espero o vento da Esperança, da grande Esperança que varra todas as falsas folhas das falsas árvores da ilusão, de cada uma das ilusões à sombra das quais tenho vivido toda a minha vida.

Quero amar a mim e a cada um dos meus companheiros de jornada nesta vida, apesar das misérias que reconheço em mim e neles, apesar de cada um dos nossos enormíssimos enganos e auto-enganos e equívocos e erros. Quero amá-los e também amar-me a mim mesma, apesar de tudo. E, para amar-me e a eles, DE VERDADE, preciso perdoar-me e perdoar a cada um deles, VERDADEIRAMENTE.

Ah, são palavras, seriam apenas e tão somente palavras vazias e inúteis, se não estivessem ancoradas neste Porto Desolado, tão desolado que só resta ao horizonte da alma aguardar, à beira do Cais, no limite do horizonte visível, o sinal a aproximar-se do corpo de algum navio de esperança, de qualquer esperança, de uma esperança qualquer.

Eu tenho uma alma. Se tenho uma alma, quero que ele se torne limpa. Há demasiado cansaço em todos os corpos de mim, repletos todos de infinitas lembranças, amarras me prendendo aos Países da Saudade.

Nada sei do presente, nem me alentam imagens possíveis do futuro: do meu, dos companheiros, do Mundo. Nada sei. Sei apenas, e nem alcanço toda, a fundura dos pensamentos, que nada encontram neste Fundo a não ser um Universo Perplexo. É preciso coragem quase além de toda medida para recomeçar a busca da confiança e da alegria que nos devem aguardar em algum lugar do Tempo. Desfaleço, todos os dias, na busca de tal coragem. SEI QUE QUERO VIVER. SEI QUE O DESCOMUNAL DESTA DOR É O GRITO DA VIDA DENTRO DE MIM BUSCANDO ESPAÇOS, PRECISANDO SAIR DO CALABOUÇO.

Quero crer que existe um PAI e que este PAI nos ama a cada um, e que esse PAI nos irá acompanhar sempre, jamais nos abandonará. Simples assim. De que nos valeram todas os livros lidos, todas as perguntas, todas as respostas, todos os combates, todas as derrotas, todas as desistências, todas as renúncias, todos os silêncios, todos os alardes,todos os versos e prosas, todas as juras, todas as perjuras,todos os enganos, todas as peregrinações, se nada nos deu VERDADEIRAMENTE a RAZÃO de TUDO? É como se eu não ouvisse mais meu coração e só se chega ao PAI pelo CORAÇÃO.

Oh, PAI, Saudade no meu coração, PAI, Nostalgia na minha alma. PAI, eu preciso da FÉ em TI.Eu preciso crer no Sentido. Tem que haver o Sentido, Ele é absolutamente necessário.Se não houver o Sentido, resta apenas o ABSURDO e só nos resta ousar ir para além dele para que a DOr não seja apenas e sempre o incompreensível fruto do acaso.

São maiúsculas as palavras que uso. São maiúsculas porque no meio deste Deserto preciso aprender a amar e a perdoar EM VERDADE. PAI, como é difícil amar e perdoar para além de todas as Máscaras, essencialmente para além daquelas com que nos mascaramos diante do nosso próprio espelho interior. E, sem a conquista real deste amor, deste perdão, jamais será possível a VIDA VERDADEIRA.

Dentro deste corpo dolorido a minha alma clama por conforto.PAI, perdoa-me pelas lágrimas.

Choro por mim e pelos companheiros, cada qual imerso em sua própria Solidão, alguns poucos tentando tocar a Solidão do outro. Peço a Sua Presença, PAI, em cada um de nós, para que cada um de nós jamais volte a se sentir realmente Só. E, neste instante, comungo com os infinitos seres humanos que, talvez com estas mesmas palavras, se debruçaram e se debruçam diante do SONHO e da NECESSIDADE do DIVINO, através dos muitos tempos do mundo.

PAI, eu tenho tido muita soberba mas a vida vem despindo, sem tréguas e um por um, os véus das minhas auto-ilusões. Lembro-me sempre dos pequeninos, dos quais será o REINO DOS CÉUS. Não tenho real confiança na pureza dos meus atos bons. Gostaria de crer que alguma dádiva minha a alguém tenha sido efetivamente límpida, desde o pensamento e a intenção, para que eu possa sentir-me salva, diante da minha consciência e do meu ser. Salva da minha escuridão.

Não nos desampare, PAI, releva a tibiedade da nossa confiança, da nossa fé. Sinta dentro de nós a a sinceridade desta procura, a busca por este desvelamento tão difícil.Releva, PAI, a nossa covardia, o nosso MEDO e SOCORRA-NOS. Ajuda-nos a sair vitoriosos da luta com o Lado Escuro de nós mesmos.

PAI,dê força a cada um dos corpos de que somos compostos, cada um de nós. Ampara-nos na busca da FÉ, conduza-nos por algum dos múltiplos caminhos autênticos EM VERDADE O MESMO que nos levem a TI. Fortaleça-nos para que não esmoreçamos na busca do Tempo e do Lugar higienizados ainda aqui na Terra, para que sejamos dignos de habitar este Novo Lugar e Tempo, nos quais as palavras fora e dentro tenham um OUTRO SIGNIFICADO.

PAI, ajuda-nos a CRER que esse Novo Tempo e Lugar já têm um Coração que pulsa, um Coração que ainda não aprendemos a ouvir, um Coração que continuará pulsando e esperando também por nós , a fim de que nos seja autorizado construir neles o nosso Lar.

E então já não diremos: eu e você, eu e o outro, eu e o mundo porque seremos, todos e tudo ,O MESMO, ressuscitado pelo AMOR.

11 de maio de 2008, Dia das Mães.