dá-me luz, ó tempo!
nada de poesia
sem nevralgias
sem expectativas
nem esperança
nem a porcaria da esperança
dá-me luz, ó tempo
dá-me a escuridão que acalma os olhos
dá-me o arco-íris pastel
a tarde sépia
a camisinha com xilocaína
o meu sommalium 6mg
o meu travesseiro com cheiro de cabelo
dá-me sabedoria, ó tempo que nos quebra
que nos quebra como gravetos secos
como cana nova no canavial
como osso de galinha na boca de um leão
dá-me, ó tempo
a força de esperar
a potência de saber
a paciência dos fracos
dá-me o acorde menor
pra me fazer calar
pra me fazer amar
amar ainda mais quem me ama
quem me ama merece
mais que ninguém
o meu respeito
e a força do meu corpo
de barro vivo e elétrico
e que deste corpo
saia a produção
que alimenta o bem dos meus
os olhos dos que me querem bem
e me querem ter
que eu seja todo
e seja de todos vocês.