Prece
Deus, dê-me tudo o que eu não quero. Não atenda às minhas vontades, pois elas são mesquinhas e não pertencem ao coração.
Deus, retire do meu caminho aquilo que penso ser a minha salvação, pois certamente será minha destruição. Tudo o que meu corpo almeja, certamente não me levará a contemplar o céu. Não falo do desejo de forma moralista, mas em níveis ainda não explicados pela humanidade — aquilo que apenas ao espírito tange.
Lembro-me de um trecho de uma frase da qual não recordo por inteiro, que diz: “Deus, dilacere meu coração…”. Essas simples palavras me fizeram refletir de incontáveis formas sobre como realizo meus pedidos a Deus: “Deus, me dê um pouco mais de dinheiro…”, entre tantos outros de ordem material.
Oh, Deus, como pude ser tão ingênua? Como pude esquecer do Ser Maior? E quem é esse ser? Eu. Partícula divina, ligação com Deus, onde reconheço o divino fazendo morada em meu reino interior.
Eu sou Deus. E essa não é uma afirmação antropocêntrica, tampouco teocêntrica. Eu sou o raio divino, a faísca de luz que me liga ao mundo.
É sobre isso que quero pedir. Deus, não me dê todas as riquezas deste mundo; faça-me enxergar o que há de mais puro por trás de todas as coisas: os seres, os animais, as plantas, as árvores, os bosques, o pousar do beija-flor em seu ninho e tudo o que há de mais belo neste mundo — até mesmo aquilo que muitos consideram feio.
Deus, permita-me chegar ao ponto em que nada mais distinga: bem ou mal, bobagem ou trivialidade. Então, Senhor, quebra-me em mil pedaços. E eu recolherei cada caco para formar novos quadros, pois os velhos já de nada me servem. Como poderei me desapegar deles se não forem quebrados?
Mais uma vez, Pai, quebra-me por inteiro, para que, ao abrir meus olhos ao acordar, eu sinta o novo ar entrar em minhas narinas — o ar das boas-novas.
Talvez esteja me tornando repetitiva, mas eu te suplico, ó Pai Todo-Poderoso: dilacere meu coração para que o Senhor o cure e eu entre em contato com Sua presença. Como poderia estar em comunhão com Sua força se me mantivesse presa a desejos tão banais? De que forma poderia receber Seus sinais?
Termino esta prece com a seguinte afirmação: isto não é uma prece religiosa.