Confissões a tempo...

(Da série Preces e Confissões a tempo)

Dá-me Senhor dos Mundos, a graça de envergonhar-me pelos meus atos, por abusar do meu livre arbítrio, exacerbando as minhas infelizes decisões a respeito de mim mesmo e , vez ou outra, do companheiro de jornada...

Dá-me a graça de envelhecer sem os velhos vícios, sem os medos de sempre e sem as convicções distorcidas da realidade com as quais tenho convivido. Dá-me a luz da verdade e ponde amor no meu viver, para que eu possa, a tempo ainda, salvar esta viagem ao corpo do fracasso total.

Permita Senhor que eu me liberte definitivamente pela verdade que me entra porta a dentro agora, e meus ouvidos e olhos se façam atentos a enxergar este novo mundo que tens preparado para a Nova Era, relegando ao passado a quase total falta de fé que já me acompanhou um dia.

Faz de mim um filho merecedor da tua tutela amorosa e um humilde condutor da tua palavra se possível, sem vaidade, levando a esperança transformadora onde me for possível...

Perdoa a criança inconsequente que fui e sou, e as travessuras de adulto imaturo, oscilando e vacilando ainda entre o bem que conforta a alma e o mal que faço a mim mesmo e aos outros ao meu redor

Uma mínima centelha do teu perdão me confortaria; uma fagulha da tua bondade que eu por ventura mereça Senhor, já me bastaria. Para que eu retorne à verdadeira pátria, sem me demorar séculos a fio pelos vales sombrios que posso ter construído na minha infeliz trajetória

Que possa ser assim meu entardecer, após as tantas manhas gloriosas que me proporcionastes e eu subestimei, como forma de recomeço nas lutas terrenas...Possa o meu arrependimento ser um mínimo indulto nessa prisão que construí passo a passo e sobre a qual por muito tempo acreditei não poder sair mais

Apenado, suicida inconsciente, filho injusto, procrastinador contumaz, aceito a minha sina nesta breve confissão em prece...Para que os dias que se seguem sejam mais leves e a noite da vida me encontre sereno o bastante para avaliar e aceitar minha nova situação

Possa ser assim, Senhor dos Mundos.

Agora e na hora do acerto final.

(O. Razec)