Oração Contemplativa
Os leprosos.
Naquela época, por onde Jesus passava, as multidões se arrastavam. Não eram só os 12 por ele eleitos. Éramos muitos e eu estava lá, no meio de todos. Parecíamos uma nuvem de gafanhotos famintos chegados do deserto. Mas, a nossa fome era outra. Era fome das palavras, das parábolas, das mensagens daquele homem encantador que nos hipnotizava com o seu carisma, a sua presença e nos desconsertava com a sua sabedoria. Ele conhecia a lei mosaica como poucos e não tinha o menor receio de confrontar os temidos homens da Lei, sacerdotes, fariseus, saduceus e tantos outros. Pois, quando falava, todos percebiam, claramente, que ele tinha autoridade para tal. Todos o amavam e era conhecido como o Mestre.
Muitos de nós tínhamos largado tudo, família, trabalho, emprego, compromissos e passamos a seguir aquele que nos tratava de forma diferente, aquele que dava valor a todos nós, aquele que nos respeitava, aquele que nos amparava, aquele que dividia conosco a sua refeição, a sua manta, aquele que nos curava de corpo e a alma, aquele que nos devolvia a dignidade que tínhamos perdido na estrada da vida, roubada pelos Herodes.
Posso garantir que foi uma escolha perfeita. Tivemos a grata oportunidade de viver e conhecer o “filho do homem”, mesmo só compreendendo tudo após a sua morte, quando, então, nossos olhos se abriram definitivamente. Com isto, todos tem muitas histórias a contar, cada uma mais magnifica que a outra. Cada uma mais profunda que a outra.
Um dia, Jesus estava indo para Jerusalém junto com os seus discípulos e todos nós atrás dele. Em cada lugar que passávamos uma experiência nova de Deus acontecia com alguém. Alguém sempre era abençoado, alguém sempre tornava-se rico pelo toque mágico de Jesus. Em uma aldeia ao sul da Samaria, ainda na estrada, encontramos com um grupo de 10 leprosos. Obviamente, todos mantinham-se afastados, pois o medo de contágio era geral. Então, os leprosos vendo que se tratava de Jesus, o grande Mestre, aquele que curava todos com amor e misericórdia, começaram a gritar e a pedir : - Jesus, tem piedade de nós. E vendo-os e sabendo do que se tratava, Jesus em sua imensa compaixão, simplesmente ordenou aos leprosos: - Ide mostrar-vos aos sacerdotes.
As pessoas com doença grave e contagiosa, como era o caso da lepra, viviam marginalizados, afastados da comunidade. Excluídos do convívio social, tinham a sua dignidade, também, roubada pela sociedade, pois eram considerados impuros. Assim sendo, a Lei dos judeus determinava àqueles que porventura ficassem curados deveriam, primeiro, dirigir-se ao Templo sagrado e apresentar a sua oferta a Deus através do sacerdote que, assim, autorizaria a pessoa a reintegrar-se na sociedade. Esta era a Lei e Jesus sempre fez questão de que fosse respeitada.
Depois que Jesus lhes ordenou que procurassem os sacerdotes, os leprosos voltaram caminhando para a aldeia e enquanto iam andando eram “purificados”. Um deles, vendo que estava curado, voltou-se imediatamente dando glória a Deus em altos brados. Atravessou a estrada sem medo e jogou-se aos pés de Jesus, beijando-o e rendendo-lhe graças. Era um samaritano. Jesus, então, comentou : - Acaso os dez não foram purificados ? E os outros nove, onde estão ? Não se achou ninguém entre eles para voltar e dar glória a Deus a não ser este estrangeiro ? E Jesus lhe disse : - Levanta-te, vai. A tua fé te salvou.
Fiquei, mais uma vez, pasmo. De boca aberta e sem fôlego. Olhos arregalados e com o corpo todo arrepiado. Todos nós tínhamos uma grande dificuldade em entender tudo aquilo. Mas quem era aquele homem ? Que poderes ele tinha ? Com que autoridade ele curava as doenças graves ? Tudo aquilo era mágica ? Ao mesmo tempo que ficávamos encantados, um grande medo nos consumia.
Fiquei intrigado com a ironia de Jesus ao perguntar onde estavam os outros nove leprosos que não voltaram para dar glória a Deus. O que será que ele queria dizer com aquilo ? Um senhor que andava junto de nós, explicou-me direitinho do que se tratava.
Gratidão !
A grande mensagem era, e a gratidão onde está ? Sim, as pessoas são abençoadas, recebem a graça de Deus, mas se esquecem de agradecer. De dizer uma simples palavra : - obrigado ! Um gesto simples, pequenino, que não dói, não tira pedaços, não custa caro, não machuca, não fere o orgulho e nem a vaidade. Um simples gesto de reconhecimento, de agradecimento, de amor, de carinho, de reciprocidade. E é tão difícil de encontrá-lo por aí.
Se nós nos esquecemos de agradecer a Deus as bênçãos que ele nos dá, que dirá, então, lembrarmos de agradecer os nossos semelhantes no dia a dia de nossas vidas. Por que será que somos assim tão duros de coração ? Por que será que somos tão ingratos ? Por que será que temos tanta dificuldade em reconhecer e demonstrar a nossa gratidão ? Por que será que temos dificuldade em demonstrar a nossa humildade ? Medo ? Arrogância ? Prepotência ? Vaidade ? Receio de perder poderes ? De perder a autoridade ? Mas, que autoridade ? A autoridade que temos, seja ela qual for, foi Deus que nos deu. Até isto devemos, exclusivamente, a ele.
Contemplação : Leia Lucas 17, 11 – 19; Lucas 5, 12 – 16;
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Em suas orações, quanto tempo você dedica pedindo coisas a Deus ?
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Em suas orações, quanto tempo você dedica agradecendo a Deus ?
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Você é grato aqueles que lhe circundam ?
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Quantas vezes você disse obrigado a Deus, hoje ?
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Quantas vezes você disse obrigado aos seus irmãos, hoje ?