A Jesus

Meu coração espinhoso, rígido, pesado,

Pedregoso, afiado;

Embrutecido por não o usar,

Ou por o usar só como arma.

Meu coração hostil, em riste,

Prestes a explodir, engatilhado.

Meu coração navalha, projétil, bomba,

Flecha, lança, pedra.

Meu coração dor — e já não dói —,

Aceita-o nesta primeira vez que não o arremesso, mas o doo.

Não o espeto, mas o entrego.

Aceita-o, faça favor. Aceita-o.

Não o entrego para Te machucar;

Como uma ofensa ou uma agressividade.

Antes como um carinho de quem não sabe mais ser gentil,

De quem desaprendeu a simplicidade do amor

— Ou nunca a aprendeu —,

De quem a tanto tem usado o coração como espada,

Que tem usado essa flor, e tudo mais, como uma arma,

E que de tanto golpear, de pétala em pétala caindo, sobrou só o espinho.

Mas o aceita, porquanto não mereço.

Mas o aceita, porquanto não mereces.

Pois não mereço tanto e não mereces tão pouco.

Aceita-o sem razão pela qual o aceitas,

E ainda assim com a convicção de que fazes bem.

Toma-o e o lapida, amoleça-o, esquenta-o,

Tira-lhe o fio e dá-lhe a maciez, a suavidade.

Rega-o, restaura-lhe pétala e perfume;

Faça-o novamente flor.

É Teu, faze com ele o que quiseres,

Pois eu, tendo-o sempre, nunca soube o que fazer,

E fiz mal.

E ao aceitar, desculpa-me, perdoa-me.

Soubesse eu, antes, existires,

Soubesse eu haver mãos dispostas a apanhar-me o coração mesmo a se ferir,

E morde-lo para saborear seu amor mesmo sentindo o resquício do fel,

Soubesse eu disso, teria o regado melhor,

Teria sido melhor para Ti, mesmo antes de Ti,

Como serei agora, para Ti, conhecendo-Te.

David Ariru
Enviado por David Ariru em 13/12/2019
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