Seja-me
Não sei juntar as peças do íntimo que se despedaçou na madrugada. Na ambivalência da vida, o ir e vir pode nos deixar euxaridos. Amamos, somos amados, odeiam-nos, nós assim também o fazemos! Mas quando estamos diante do espelho que revela a perda, o que se espera e o que acontece? Agonizamos, certamente , pois a valia se esvai pelo ralo. Não há como prender e sustentar, não é possível suspender a cruel verdade. Diante dessa ir sendo, a fantasia fundamental precisa ser reformulada? Será isso possível? A resposta já está posta! Certamente, também, não podemos desfazê-la, pois seus elementos são por demais intensos, vívidos e assume lugar de defesa contra a própria condição faltante. Mas, neste reflexo do fracasso, o furo se impõe, e , então, já não mais podemos velá-lo com o véu do fantasma. Simplesmente os atos irrompem, escapam dos deslocamentos, e por eles mesmos se mostram; desvelam-se, pois, e, com isso, somos obrigados a encarar o mal estar de existir enquanto um ser esburacado, desamparado, dominado pela pulsão e fadado à angústia. Nem, também, pode-se pedir, tal como o Cristo, para que o cálice seja passado, mas, pelo contrário, somos forçados a tomá-lo , e quando nos damos conta, o fel já está a escorrer, amargo e acidulante pelos lábios.