PRECE
clemência senhor que rege minha alma
por abominar as sombras
por maldizer as nuvens,
que cobrem o céu
pela intolerância aos excessos
pela incapacidade de não moldar os muros
por lamentar os elos desfeitos
pelas tentativas (em vão) de construir e reconstruir as pontes
por não impedir que o vendaval assole o tempo
clemência pelo encanto e pelos desencantos
por não sentar à mesa com a multidão
por escolher o caminho que mais dói
por dizer a mim mesma que tudo acaba, assim como acabam os dias e as noites
clemência por todas as dores ao redor do nada
pelos vazios que não soube preencher
pelas folhas que caiem
e por aquelas que permanecem nos galhos
como símbolo de resistência ou pelo simples desejo de querer
pelas árvores desprovidas de raízes
clemência senhor, pelas minhas mãos que tentam dá consistência a página de um caderno
pelos meus olhos que vão além do que posso ir
pelos meus pés que tantas vezes se atam ao chão
pela debilidade das asas que desaprenderam a voar
clemência por perder a beleza das manhãs
por chorar nas noites em que não vejo estrelas
clemência pela tristeza de momentos
pela constância dos sorrisos que me reveste
pela minha própria pele que queima pelo desagrado
sobretudo clemência pelo meu coração
amém!
Margarida Di