PRECE

clemência senhor que rege minha alma

por abominar as sombras

por maldizer as nuvens,

que cobrem o céu

pela intolerância aos excessos

pela incapacidade de não moldar os muros

por lamentar os elos desfeitos

pelas tentativas (em vão) de construir e reconstruir as pontes

por não impedir que o vendaval assole o tempo

clemência pelo encanto e pelos desencantos

por não sentar à mesa com a multidão

por escolher o caminho que mais dói

por dizer a mim mesma que tudo acaba, assim como acabam os dias e as noites

clemência por todas as dores ao redor do nada

pelos vazios que não soube preencher

pelas folhas que caiem

e por aquelas que permanecem nos galhos

como símbolo de resistência ou pelo simples desejo de querer

pelas árvores desprovidas de raízes

clemência senhor, pelas minhas mãos que tentam dá consistência a página de um caderno

pelos meus olhos que vão além do que posso ir

pelos meus pés que tantas vezes se atam ao chão

pela debilidade das asas que desaprenderam a voar

clemência por perder a beleza das manhãs

por chorar nas noites em que não vejo estrelas

clemência pela tristeza de momentos

pela constância dos sorrisos que me reveste

pela minha própria pele que queima pelo desagrado

sobretudo clemência pelo meu coração

amém!

Margarida Di

Margarida Di
Enviado por Margarida Di em 24/10/2018
Reeditado em 24/10/2018
Código do texto: T6484825
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