ANGÚSTIA E SAUDADE
ANGÚSTIA E SAUDADE
António Luís Alves
Solidão, palavra estranha. Quem a não sentiu uma vez, uma só vez? Solidão não é estar só. Solidão é estar só no meio da multidão. É saber que jamais terá a companhia daqueles que partiram entrando na eternidade. Solidão dói, deixa marcas que jamais se irão. Deixa marca que ninguém vê, deixa a angústia que só a sente quem a vive no dia a dia. Tal entrar numa porta: não falta nada, mas a casa está vazia. Estranho momento esse. Apenas silêncio, saudade. Apenas o tremendo som do silêncio, a angústia do nada.
Um momento que vale uma eternidade. Neste instante, em louca correria, vivem-se recordações da infância, marcas de um passado distante. Dias vividos e desaparecidos há pouco na voragem do tempo. E estes não são apenas a memória do passado, são momentos vivos do presente, bem presente. Foi-se a amiga, partiu para sempre, foi o outro pedaço deste eu que continua a se fazer presente, sem ter a certeza se este eu vive ou apenas existe.
E como tinha razão o saudoso Padre António Vieira: somos apenas pó. Pó que se alevantou, o pó que caiu, apenas pó, nada mais! Essa solidão, esta angústia, esta saudade, terá apenas descanso quando for apenas pó, o pó deitado à eternidade.
Quantas vezes, quantas, recordo as últimas palavras de um soneto de Camões, aqui reproduzidas:
“E se vires que pode merecer-te
De alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa sem remédio de perder-te,”
E só me resta esperar.