Delação forçada...
..."Se alguém souber de algum impedimento que torne nulo ou ilícito este casamento, é obrigado a denunciá-lo, sob pena de pecado mortal..." E era assim que se fechavam os Proclamas de Matrimônio, dependurados nas colunas centrais da matriz de Pitangui e anunciados em púlpito pelo celebrante da ocasião, naqueles finzinhos dos anos 50 e inícios da década de 60.
Se severa a pena, mais severo ainda o controle que a igreja exercia sobre os paroquianos. Não sei se a denúncia oferecia algum tipo de indulgência ao denunciante, pois no não denunciar é que estava o pecado. E tampouco sei se ainda se fazem esses anúncios e se continuam sujeitos ao escrutínio
público e da santa madre.
Sua proposta original deveria ser para a sanitização dos costumes sociais, e embora nunca tenha eu testemunhado ou ouvido de algum caso em que se anulasse uma boda ao logo do período em que estive ligado à essa instituição eclesiástica, o que mais se divulgava eram casos excepcionais de anulação de casamentos de pessoas milionárias ou influentes que se filtravam até as mãos do Papa que, se não papava, ao menos sentença dava. Assim por exemplo foi o caso de uma princesa monegasca que se casara com um cidadão francês e, insatisfeita ela, ou a família, com a evolução daquela união, o Papa da ocasião concedeu-lhes a dissolução.
Você delataria, mesmo sem chance duma regalia? Ou, no silêncio do pecado melhor se sentiria?