Oração a Santa Ignorância

Perdoe os que não sabem o que fazem

Os que falam sem saber

E aqueles cujo silêncio vale ouro

Mas perdem a chance de ficar calados

Perdoe os ferreiros em cuja casa o espeto é de pau

Perdoe as pedras lançadas por aqueles que tem teto de vidro

Perdoe os que cedo madrugam pra Deus ajudar

Perdoe o que com com ferro fere e sem ser ferido

Perdoe as putas cujos filhos não mereciam ter

Perdoe os ladrões que roubam ladrões, mas que não seja preciso fazê-lo por cem anos.

Perdoe os santos do pau oco por não terem dinheiro, ouro ou santidade.

Perdoe os que se refrescam com pimenta nos olhos dos outros

Perdoe os gatos que caçaram com os que não tem cão

Perdoe os que ficaram e o bicho pegou, assim como os que correram

e o bicho comeu.

Perdoe o macaco velho que meteu a mão na cumbuca.

Perdoe aquele que foi pro diabo que o carreguou

Perdoe aquele que foi ver se eu estava na esquina

Perdoe aqueles que deram bom dia ao cavalo por falarem demais

Perdoe o filho do peixe que peixe é

Perdoe aquele cujo conselho se fosse bom venderia

Perdoe aquele que cochicha sem que o rabo espiche

Perdoe aquele cujo trabalho não o dignifica como homem

Perdoe o pepino que foi torcido desde pequenino

Perdoe a viúva que se casou num dia de sol com chuva

Perdoe o pau que nasce torto e nunca se endireita

Perdoe aquele que fará amanhã o que poderia fazer hoje

Perdoe os que dão com um mão e tiram com outra

Perdoe a pouca farinha do primeiro pirão

Perdoe os amigos que não avisam

Perdoe as onças e os seus amigos

Perdoe aquele que deu nó em pingo d'água pra escapar de investigação

Perdoe aquele que mentiu pra boca que ia pra Roma

Perdoe as galinhas que acompanharam os gansos

Perdoe os que fazem a orelha coçar e cotovelo doer

Perdoe os jacus que em festa de inhambu piaram

Perdoe a faca de dois gumes

Perdoe o olho que não pode ver o que o coração sentiria

Perdoe os que não passaram debaixo das escadas

Perdoe os que obedeceram por ter juízo

Perdoe o que cuspiu no prato que comeu e não lavou

Perdoe o homem prevenido que valeu por dois

Perdoe o grande homem cuja grande mulher estava atrás

Perdoe aquele quebrou o espelho e teve 7 anos de azar.

Perdoe aquele que amanheceu mijado por brincar com fogo

Perdoe aqueles que andam com que tu és

Perdoe as mães dos filhos de chocadeira

Perdoe o pau que deu em Chico, mas não deu no Francisco

Perdoe o que deve e não nega, mas também não paga

Perdoe os que gozam com pau dos outros

Perdoe aqueles que se aproveitaram do que não tinha dono

Perdoe os que misturam leite com manga

Perdoe os que desejaram o dobro do que desejaram a eles

Perdoe o que comeu o pão onde se ganhou o vinho

Perdoe o que caiu no buraco e levou os outros juntos

Perdoe o passarinho fofoqueiro

Perdoe aquele cuja as paredes tem ouvido

Perdoe aquele cujo tiro saiu pela culatra

Perdoe o que não confia nem na própria mãe

Perdoe...

Perdoai os nós cegos, toda a legião dos filhos, das lutas, dos cornos, das vacas, babacas, dos quintos, dos infernos, da casa e dos baralhos, das flores, das rosetas, da buzina da mãe

Amém

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 20/05/2016
Reeditado em 20/05/2016
Código do texto: T5640916
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