Decomposição
O Asilo Padre Américo, da Velha Serrana, é instituição centenária, que abriga uma cinquentena de internos. Situado na parte mais alta da cidade, coloca sua população mais perto da eternidade. O ponto de transbordo situa-se um pouco adiante só, num patamar um pouquinho mais elevado, o cemitério abençoado.
Os internos, divididos em duas alas, quando se exprimem, geralmente dizem gostar daquele derradeiro convívio. Tudo modesto, mas tão arranjadinho, disciplinado, limpo, um brinco de tamanho cuidado. A massa obreira, ao que consta é de voluntários, em que jovens e senhoras anônimas predominam na diuturna tarefa de servir, assistir e dignidade redimir. Uma irmã, de simpatia e sensatez estampadas no rosto parece se ocupar do resto.
O mais evidente traço no perfil dos internos é de que a passagem ali deverá ser breve. Espera-os o Criador, e cumpre abrir vaga para algum mais afortunado do sempre crescente e demandantes número de aspirantes. A desvalia é outro traço marcante, entre algum eventual andante, e bom número de população cadeirante, ou em fase mais avançada, já acamada.
A sala de visita e as áreas comuns do estabelecimento são espaçosas e convidativa a versos e prosas. As habitações, embora reduzidas em tamanho, são bem condignas e embora desaparelhadas em matéria de mobiliário asseguram o descanso e sono de seus ocupantes. Há estádios variados de sanidade física, mental e locomotora, invariavelmente com tendência ao agravamento.
Na sala principal, de recepção, em preto e branco, uma galeria de fotos dos vigários do burgo que na linha do tempo, dirigiram ou supervisionaram a instituição. O pároco Guerino Pontello fê-lo por quatro décadas e meia. Récorde imbatível. Como imbatível também é a esperança dos enfermos de chegarem salvos e sãos ao bom ermo. A certeza é que Ele cá virá, mas na dúvida, melhor ir pra lá.