Em o nome de Jesus

É assim que os pastores dirigem-se, ou melhor, tomam posse, do nome do Pai, para operarem os milagres em seu nome. Fazem-no de forma enfática, não sei bem se para o Pai entender-lhes melhor a linguagem, a intensidade do apelo, ou se para assustarem a maligno que, ao que parece, tem algum problema de audição.

Verdade seja dita. E bendita: o milagre nunca falha. O que se sucede à invocação é cortante como o fio da navalha. Da Solingen? Muito melhor ainda, pois não carece aquela amolação frequente na pedra de afiar.

Vem-me aqui a lembrança de tempos infantis, mais que cinquentenários portanto, em que minha irmã Bebel começou a se enveredar pela senda

dos feitos mágicos. No caso, feitiço. Eram salutares, necessários e corretivos aqueles atos seus. Não podíamos aceitar, sem uma equivalente retaliação, que se nos negassem legítimas vontades, como por exemplo um pedaço dos deliciosos bolos na casa de vovó, umas mudas de flores do cobiçado jardim da também vizinha casa de Dona Chiquinha, ou, para não me estender por demais - e a lista era mesmo longa - uma nota decente nas provas de matemática, cujos resultados nos confrontavam com as esperanças tão justificadas de mamãe e papai em nosso sucesso acadêmico.

A fórmula encontrada por Bebel, que temia alguma interveniência do Onipotente, continha palavras mágicas que nem para nós, hermanos menores, ela, que espiritualmente ligada a Cipriano aprendia, traduzia.

Nada obstante, o o bastante, ad nauseam, a repetia:

Borishkó borijopi, fon...e seu pedido ao recôndito se fazia. Era tiro e queda.

O maligno parecia entender mais rápido do que o benigno. Fazer o mal, não paira dúvida, é mais fácil. Não é sem razão que nossos governantes, além de capricharem na carga tributária, vivem maquinando novas formas e normas de arrecadar. Até arrecabar, o contribuinte há de pensar. Estão todos mancomunados no chamado bem danação.

Nossa sorte é termos esses paladinos da fé, que intermediando nossos desejos e aflições, falam direto com o altíssimo. E o custo, pensando bem costuma ser menor do que uma ligação telefônica internacional, por exemplo. E traz a vantagem de não termos que ficar, para sermos atendidos finalmente, digitando um, digitando dois, três, e até chegando a desligar o fone ao cabo de tanta confusão. Pra religar, no desespero e destempero, e voltar à estaca zero.

Aliás, a estaca, que tanta paúra aplaca, tem seu lugar exaltado nos rituais evangélicos. Cravada no peito direito é cabal seu efeito. A cruz, a gente sabe que espanta, afuguenta o Sacanaz, mas é com a estaca que a estocada final dás. E zás, só cheiro de enxofre é que fica pra trás.

E em o nome de Jesus, quanta cousa boa não se faz.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 13/11/2015
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