O Pai, o Filho e Madalena
Andava o Pai preocupado com os rumos que a vida do Filho iam levando. Demandas frequentes e crescentes por graças, curas, milagres, pregações, e o Filho não parecia ter tempo para constituir uma família, logo Ele que da mais sagrada procedia...
O jeito foi chamar o já não tão jovem Filho e sugerir-lhe que se aproximasse da bela e zelosa Madalena. O Filho reagiu, arrazoando sua recusa:
- Mas Pai, esta é minha sina, meu dever, minha missão na terra, curar os enfermos, levantar os caídos, endireitar os coxos, fazer ver os cegos, dar ouvidos aos surdos, enxotar vendilhões do templo, doutrinar os apóstolos e gentios, aproximar-me dos pequeninos, como é que vou ter tempo para cuidar de uma pessoa só?
E o trabalho de persuasão paterno, paciente, percuciente, perseverante, continuou, dias, semanas, meses a fio e a pavio. Até que um dia, aleluia, o Filho cedeu, e concordou em se encontrar com Madalena.
Para tal, reuniram-se num belo e ricamente ornado aposento providenciado pelo Pai que, por medida cautelar, típica de um bom progenitor, ficou, ainda que invisível, junto à porta de entrada.
Poucos minutos passados naquele tão esperado encontro eis que o Pai ouve um lancinante brado feminino, seguido da abertura rápida da porta e da saída um tanto desconcertada do Filho...
- Filho, Filho, que está havendo?
- Oh, Pai, Madalena tirou a suas delicadas vestes e, quando vi aquele enorme talho, que me pareceu um ato falho, não tive a menor hesitação em lhe quebrar o galho: lá as mãos botei e, num átimo, o curei...