Livrai-me!

Livrai-me dos solavancos que misturam e confundem meus sentimentos.

Dos estragos causados quando fico com o coração endurecido.

Das tantas palavras que me leva a pensar que sou “sabida”.

De usar pouco silêncio, quando ele é tão necessário

Do tempo perdido com coisas sérias dos adultos.

De anoitecer sem agradecer e amanhecer sem sorrir

De querer ser grande, sem ter sapato de salto alto suficiente

Das palavras ásperas que tanto machucam

De sentir saudade do que não tem jeito

Da solidão, com tanta gente perto.

Do apego ao que se dissipa facilmente

De perder tempo com o que foi perdido

Das certezas que me privam da beleza de tecer sonhos incertos

Dos carinhos econômicos por medo de me entregar

Da falta dos riscos que emocionam a vida

De todas as faltas. Da falta de coragem, da falta da música, da falta do toque, da falta de amizade, da falta de fé e de amor.

E liberta-me de usar as hipóteses do desaforo de ser normal e viver o óbvio, engaiolada nas convicções. Que eu renasça com a sensação de que sou poeta, sonhadora, louca e majestosamente viva, sem precisar me preocupar em explicar as razões disso.