Maria dos Olhos d´Água
Eu tinha meus quase dezenove anos, a universidade, e uma fome de sé(x)culos. A farmácia não me era o remédio, mas era a obrigação diuturna, que ia da uma da tarde até o cair da noitinha. Dava-me uma fração do sustento, o aprendizado do que contém as bulas e burlas e a amizade judiciosa do Raúl.
Que não era Castro, nem casto. Homem do campo, viera para BH na cara e coragem e se tornara o braço direito do farmacêutico Fiúza. Tentou ensinar-me a prática da injeção na veia, oferecendo-me o próprio braço, mas foi mais além. Quis fazer-me alcançar o paraíso da juventude, parelhando-me com as vestais que passavam pela farmácia à busca dum papo, dum guapo.
Baldadas algumas tentativas, acertou em Maria, que nos Olhos d´Água vivia. Era um trajeto de ônibus que serra subia e serra descia, a meio caminho de Nova Lima, ainda então boa de ouro e de rima. O frêmito da curta viagem, com meu papo entrecortado, só me aumentou a voragem para o que estava prenunciado.
No casebre de Maria, duas jovens mães já estavam recolhidas, entre chão e catre. E o frio rugia, sem lua na espia, enquanto, no breu, iluminava-me Maria.
Contei onze nossas arremetidas na gélida noitada. Minha matemática
nunca foi brilhante, contudo. E nesses prélios de Cupido, me iludi, e não raro me iludo. Mas foi puro veludo, no rela-grela felpudo.
O amanhecer foi do percurso de regresso e de mergulho em celibatário retiro. Que se estendeu ao day after, 24 horas ininterruptas.
Passados ansiosamente abluções e desjejum, fui confidenciar o tamanho de minha proeza, ainda de pira acesa, sem nunca mais saber o que Maria diria.